Uma organização criminosa estruturada, com hierarquia definida e um arsenal à disposição começou a ser desmantelada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). A quadrilha é responsável pelas cinco maiores explosões em caixas eletrônicos nos últimos 12 meses na capital, incluindo as ações no prédio Anexo do Palácio do Buriti, no Shopping Pier 21, no Centro Comercial Gilberto Salomão, na Associação dos Servidores do Senado Federal (Assefe) e no hotel Golden Tulip, próximo ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República.
Ao todo, 10 integrantes do bando foram identificados, sendo que quatro deles já estão presos. As apurações, conduzidas pela Delegacia de Repressão a Furtos (DRF), vinculada à Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), intensificaram-se depois da ação audaciosa no Golden Tulip, onde cerca de R$ 470 mil foram levados dos caixas. Estima-se que o grupo tenha faturado perto de R$ 1 milhão.
As novas linhas de investigação chegaram a até dois suspeitos que tinham como responsabilidade “guardar” os carros usados para a fuga da quadrilha após as explosões. Andrevaldo Ferreira de Souza, 27 anos, e Fernando Barbosa Alves, 26, confessaram a participação nas ações.
Em seguida, os investigadores da DRF identificaram o “piloto” da quadrilha, escolhido para empreender fuga após os crimes. Mikael Mafra Dantas, 25 anos, também está preso e recebia cerca de R$ 4 mil, pagos com o dinheiro furtado dos caixas, para dar fuga aos criminosos.
Padrão de atuação
As investigações conseguiram identificar o modus operandi da quadrilha. Os integrantes do grupo sempre planejavam os ataques depois de acompanhar, durante dias, a rotina dos locais que seriam alvo das explosões.
A organização criminosa agia na madrugada, fortemente armada e amparada por dois veículos. Um dos carros sempre era incendiado após a ação, e os criminosos fugiam no outro, apelidado de “segundinha”.
Além do “piloto”, que tinha a responsabilidade de sair do local com os integrantes da quadrilha após as explosões, havia os homens que escondiam os veículos em local discreto. Na linha de frente do bando, os “explosivistas” tinham a missão de abrir buracos nos caixas eletrônicos.
Outros dois indivíduos fortemente armados tinham como atribuição garantir um perímetro de segurança e render vigias e seguranças, além de amarrá-los em algum local, como salas e banheiros. Os dois responsáveis eram, justamente, os líderes da quadrilha, identificados como Thiago Alves Simões, 28 anos, e Jaisson Alves de Jesus, 27.
Foragidos
Thiago é apontado pela polícia como o mentor intelectual das explosões. Além de ser um dos braços armados da quadrilha, o criminoso organiza toda a logística, o posicionamento e a cronologia das explosões. Conhecido como TH, o suspeito – que está com a prisão preventiva decretada – também era o responsável pela partilha do dinheiro retirado dos caixas eletrônicos.
Jaisson, outro foragido apontado como figura de destaque na quadrilha, tinha uma função fundamental nas ações. Com habilidades em marcenaria, o suspeito produzia os próprios explosivos usados nas ações. O bando comprava rojões em lojas de fogos de artifício para retirar a pólvora.
Em seguida, Jaisson produzia recipientes de um material chamado “metalon”, espécie de tubo metálico galvanizado. Os explosivos eram moldados artesanalmente e usados nos ataques.
Segundo o coordenador da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais, delegado André Leite, não existe qualquer ligação entre a quadrilha e facções criminosas, como se chegou a cogitar.
“São criminosos do DF e do Entorno que chegaram a um nível de organização capaz de realizar esses ataques. Com novas linhas de investigação, tivemos sucesso em identificar todos e prender metade do bando. É questão de tempo até que todos estejam atrás das grades”, afirmou o delegado.