05/06/2019 às 12h34min - Atualizada em 05/06/2019 às 12h34min

Brumadinho: PCDF apura como ex-candidata “lavou” indenização da Vale

Ana Maria Vieira, moradora do DF, se passou por vítima da tragédia no município mineiro e recebeu, indevidamente, R$ 65 mil da empresa

Ana Maria Vieira Santiago (foto em destaque), 57 anos, presa em Minas Gerais acusada de se passar por vítima da tragédia de Brumadinho (MG), é investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal por lavar R$ 65 mil recebidos a título de indenização da mineradora Vale. Os policiais apuram se a mulher, que é ex-candidata a deputada distrital, depositou os valores em contas de familiares ou se comprou bens na capital federal. Para conseguir o benefício, ela alegou ser moradora de uma das regiões atingidas pelo rompimento da Barragem Córrego do Feijão.

Agentes e delegados da Coordenação de Repressão a Crimes Contra o Consumidor, Ordem Tributária e Fraudes (Corf) acreditam que Ana Santiago possa ter depositado parte do montante — pelo menos R$ 30 mil — na conta da filha, que também reside no DF. A família também teria comprado um carro novo.

A mulher, que também entrou na mira da Polícia Civil de Minas Gerais por estelionato, está presa na Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas (MG). Ela foi detida em 19 de março. Identificada como “Ana Blue” nas redes sociais, a suspeita alegou à mineradora que tinha uma casa na região do Parque das Cachoeiras, uma das mais afetadas pelos rejeitos da Vale na tragédia de 25 de janeiro deste ano.
 

Estelionato
De acordo com o inquérito policial instaurado em Minas Gerais, Ana Maria, natural de Anápolis (GO), convenceu alguns moradores de Brumadinho a participar do golpe: eles mentiram ao afirmar que a ex-candidata tinha uma propriedade no bairro e que o sustento dela vinha da atividade agropecuária. Os comparsas vão responder por falsidade ideológica.

Ao Metrópoles, a Polícia Civil detalhou que a investigação teve início tão logo a brasiliense fez o cadastro para receber a indenização. Ficou comprovado que ela nunca residiu ou teve imóvel no município mineiro.

A prisão ocorreu em 18 de março. No dia seguinte, ela acabou transferida para o Presídio Feminino José Abranches, localizado na cidade de Ribeirão das Neves (MG). Agora, só poderá deixar a cadeia e ter liberdade provisória se devolver o valor recebido indevidamente.

Desde que a Vale começou a pagar as indenizações, a PCMG identificou 10 estelionatos consumados e três tentativas. A reportagem não localizou a defesa de Ana Maria. Ao Metrópoles, o MDB disse que a mulher não é mais filiada à legenda e, atualmente, encontra-se nos quadros do PR.

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Histórico de ocorrências
Ana Maria é velha conhecida da Polícia Civil do DF. Ela é denunciada em ao menos seis ocorrências. O Metrópoles apurou que os registros foram feitos nos anos de 2005, 2008, 2010, 2013, 2016 e em 2019. São cinco acusações por estelionato e fraude à execução e uma por receptação de celular furtado. Em março deste ano, um casal comunicou à 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul).

O casal relatou ter feito contato com um corretor, que teria indicado um amigo proprietário de uma casa em Arniqueiras. A venda teria sido fechada da seguinte maneira: os compradores transferiram dois apartamentos com escritura no Núcleo Bandeirante em troca da residência. Além disso, os denunciantes disseram que uma diferença de R$ 32,5 mil foi depositada nas contas do dono do imóvel (R$ 14 mil), para a do corretor (R$ 9,5 mil) e para a de Ana Maria (R$ 9 mil).

Os novos moradores começaram a fazer as obras no imóvel, mas, em 12 de março, descobriram que a casa estava penhorada. No processo da 1ª Vara Cível, existiam apensados outros dois casos de embargo de terceiros, porque, em 2016 e 2018, Ana Maria vendeu a propriedade para outras duas pessoas. As vítimas alegam ter gasto mais de R$ 70 mil em materiais e mão de obra para a reforma.

O casal contou em depoimento que Ana Maria se esquivava das intimações, fazendo-se passar por empregada doméstica e dizendo desconhecer a pessoa procurada pelos oficiais de Justiça. As vítimas revelaram ter ido atrás da mulher mais de uma vez para falar sobre o problema, mas a golpista dizia que estava ocupada, pois era assistente social da Vale e tinha de viajar para Brumadinho.

Cooperativa
As outras denúncias contra Ana Maria são relacionadas a uma cooperativa, de nome Ascun-DF, criada por ela. De acordo com as famílias vítimas do golpe, a mulher informava ter lotes liberados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab).

Ela pedia o pagamento de R$ 4,6 mil mais duas taxas nos valores de R$ 250 e R$ 350. Informava que seria feito um cadastro e, após esse procedimento, um lote no Riacho Fundo II seria liberado. Após os pagamentos e sem receber o imóvel, as vítimas foram até a Receita Federal.

Os moradores descobriram que a Construtora Soares LTDA., informada por Ana Maria como responsável pela construção das casas, na verdade, tratava-se de uma empresa especializada na contratação de técnicos de limpeza e conservação. O caso é investigado pela Corf.

BMW
Mais um caso registrado pela Polícia Civil do DF chama a atenção. Um homem de 45 anos comprou, em 2005, uma BMW de Ana Maria. O valor acertado entre os dois foi de R$ 10 mil. Ele assumiu o carro com o motor fundido e com débitos junto ao Detran no valor de R$ 5 mil.

À polícia, o homem contou ter deixado o veículo em uma oficina na Candangolândia. No entanto, em 22 de fevereiro do mesmo ano, o mecânico foi abordado por um policial militar no momento em que circulava com o automóvel.

Segundo a vítima, um soldado apreendeu o veículo sem alegar o motivo. O carro foi entregue à Ana Maria em circunstâncias desconhecidas, contou o homem. Ele também denunciou que foi ameaçado de morte por Ana Maria e pelo militar. A ocorrência foi registrada na 29ª Delegacia de Polícia (Riacho Fundo).

Tragédia
No último domingo (7/4), a Defesa Civil de Minas Gerais informou que o número de mortos identificados na tragédia da mineradora Vale subiu para 224. De acordo com o órgão, 69 pessoas permanecem desaparecidas e 395 foram localizadas.

Passados mais de três meses desde a tragédia, os trabalhos das equipes do Corpo de Bombeiros continuam na região onde ocorreu o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão. Os rejeitos atingiram a área administrativa da Vale, uma pousada e comunidades que moravam perto da estrutura.


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