24/06/2019 às 06h50min - Atualizada em 24/06/2019 às 06h50min

Análise: políticos armam o bote para escapar da reforma da Previdência

Para assegurar as regalias, congressistas não precisam fazer manifestações. Basta convencer o relator e, na hora de votar, pensar no bolso

Os "representantes" do povo no Parlamento se movimentam em causa própria. Na reta final da tramitação da reforma da Previdência na Câmara, deputados e senadores trabalham para escapar do teto das aposentadorias fixado na proposta do governo.
 

No modelo criado pela equipe econômica, os futuros congressistas não terão direito a aposentadoria especial e seguirão as mesmas regras do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com teto de R$ 5.800. Os que têm mandato se submeterão a regras de transição.

As mudanças previstas na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 06/2019 acabam com o regime especial em vigor. Hoje, se um parlamentar contribuir por 35 anos, tem direito a aposentadoria no valor integral do salário, cerca de R$ 33 mil.
 

Às escondidas, políticos procuram o relator da reforma na Câmara, Samuel Moreira (PSDB-SP), para retirar do pacote do governo o teto de R$ 5.800 estabelecido pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Alegam que, na forma estabelecida pelo texto, eles saem prejudicados em relação aos demais trabalhadores.

Ora, a reforma da Previdência tem como um dos objetivos, exatamente, cortar privilégios. Sem eliminar as vantagens desfrutadas pelos políticos, matematicamente, não se cumprirá a meta original.

Além do impacto financeiro, a flexibilização das regras para os congressistas desmoraliza o discurso de sacrifícios feitos para a população. Exigir restrições dos brasileiros sem dar o devido exemplo ajuda a aprofundar o fosso entre a sociedade e os governantes, fenômeno determinante na política nacional desde as manifestações de 2013.


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