11/08/2019 às 06h24min - Atualizada em 11/08/2019 às 06h24min

Posto onde começou a Operação Lava Jato vira ponto de venda de drogas à noite

Traficantes aproveitam o movimento de clientes na lanchonete e no bar do Posto da Torre para vender entorpecentes como cocaína

CARLOS CARONE
Metrópoles

No início da madrugada, quando as bombas de combustível são desligadas e os frentistas encerram as atividades, o Posto da Torre, conhecido nacionalmente por ter sido o ponto de partida para a Operação Lava Jato em março de 2014, se transforma. Traficantes, garotas de programa e usuários de drogas passaram a frequentar o complexo comercial, formado por bares e lanchonetes, e viram a oportunidade de lucrar.

O Posto da Torre pertence ao doleiro Carlos Habib Chater, condenado a 10 anos e 11 meses de prisão por crimes contra o sistema financeiro. A pena foi imposta pelo juiz federal Sergio Moro em setembro do ano passado.

No comércio que ganhou os holofotes na primeira fase da Operação Lava Jato, a venda e o consumo de cocaína e outras drogas nas dependências do estabelecimento são tão intensos que contam com um “revezamento” de traficantes noite adentro. Os banheiros externos são ocupados por grupos de usuários até o amanhecer, onde usam os entorpecentes sem serem incomodados.

Durante duas semanas, a reportagem do Metrópoles acompanhou a movimentação, que costuma ser regada a álcool e drogas. Sempre às quartas-feiras – geralmente dia de futebol na TV –, o posto recebe uma multidão. A partir da meia-noite, frequentadores que chegam de carro chamam a atenção, quase sempre, pelo som alto. Outros param a bicicleta nos acostamentos e há os que se aproximam a pé.

A lanchonete especializada em comida árabe, o bar com narguilé e a loja de conveniência permanecem abertos e faturam com a venda de bebidas. O comércio de drogas começa com a chegada de dois traficantes, que “dividem” a clientela.

De boné e mochila nas costas, os criminosos se destacam no meio da multidão pela popularidade. Quase todos os frequentadores cumprimentam os dois homens, que transitam por todas as mesas armadas ao redor das lojas.

As transações para a compra do pó ocorrem de maneira discreta, e o consumo é feito, muitas vezes, na companhia deles dentro dos banheiros. As placas que definem os banheiros masculino e feminino são ignoradas.

Homens entram em grupos no sanitário das mulheres e vice-versa, apesar de cada unidade contar apenas com um vaso sanitário. Eles aspiram o pó e deixam o local. A movimentação se prolonga por toda a noite.

“Coisa boa”

Além da cocaína consumida freneticamente nos banheiros, os frequentadores do local cheiram alguma substância dentro de latas de refrigerante – provavelmente solventes. Cigarros de maconha também são acesos entre uma cheirada e outra.

Circulando entre as mesas, passando pelos usuários, a equipe de reportagem chegou a ser abordada em uma madrugada por um dos traficantes. “Tenho coisa boa aqui, posso conseguir o que vocês precisarem, é só chamar”, disse o homem, de boné e calça escura.

Garotas de programa e travestis também aproveitam a grande oferta e a facilidade para comprar drogas no posto. Muitas ficam no local bebendo e consumindo os entorpecentes entre os intervalos dos programas feitos no Setor Hoteleiro Sul. Algumas compram drogas antes de entrar nas boates que exploram a prostituição e funcionam nas redondezas.

Nas mesas laterais ao posto, onde funciona a lanchonete especializada em comida árabe, traficantes aproveitam para retirar a droga de locais onde haviam sido escondidas pelos próprios criminosos. Uma dupla tira os sapatos e a palmilha do tênis onde estavam acondicionadas as trouxinhas de cocaína.

Apesar da aparente tranquilidade, os traficantes que atuam no local costumam trocar de roupa durante a madrugada, supostamente para evitar o reconhecimento das autoridades caso haja alguma denúncia. A reportagem flagrou, por duas vezes, os suspeitos trocando as peças de vestuário antes de deixarem o local após toda a droga ser comercializada.

Sem saberem que estavam sendo gravadas, algumas pessoas que frequentam o local comentaram que os traficantes adquirem a cocaína em cidades no Entorno do DF e repassam durante as noitadas no Posto da Torre.

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