Dias Toffoli destilou o ódio e a inveja que sente da Lava Jato.
Por ser despreparado para grande funções, tendo chegado ao Supremo Tribunal Federal sem o notório saber, Dias Toffoli às vezes revela um ingenuidade verdadeiramente constrangedora. Recorde-se que, para servir a um velho amigo como o ex-ministro José Dirceu, que foi seu chefe na Casa Civil e o indicou para o STF, Toffoli foi capaz de conceder um habeas corpus que a defesa de Dirceu sequer havia pedido, e ficou tudo por isso mesmo, como se dizia antigamente.
Confiante numa eterna impunidade que padre Quevedo diria “non eczistir”, Toffoli não aceitou ser apanhado na malha fina da Receita Federal, por receber mesada de R$ 100 mil de sua mulher, e também ficou revoltado ao saber que o amigo Gilmar Mendes e a mulher também tinham sido enredados.
INQUÉRITO ILEGAL – Em março, aproveitou o fato de ser presidente do Supremo e criou um inquérito interno totalmente ilegal. Primeiro, porque não a investigação não era interna, mas externa; e depois, porque o Regimento do STF, além de não permitir essa extravagância, também exigia a aprovação da procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, que deu parecer contrário e mandou arquivar o inquérito.
Mas o todo-poderoso Toffoli, acima da lei e da ordem, mandou seguir o inquérito. Em julho, aproveitou o plantão do recesso e suspendeu todas as investigações baseadas em relatórios do Coaf, da Receita e do Banco Central. Com essa audaciosa jogada, de uma só vez conseguiu imobilizar a apuração que envolvia ele próprio e sua mulher, a advogada Roberta Maria Rangel, assim como a investigação do casal Gilmar Mendes e Guiomar Feitosa.
O mais incrível é que blindou também o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e seu ex-assessor Fabricio Queiroz, fazendo vibrar a galera do eixo Planalto/Alvorada.
UM GRANDE AMOR – De repente, passou a haver um troca-troca de elogios e de amabilidades entre os presidentes da República e do Supremo. Como diria Djavan, o amor de Bolsonaro e Toffoli, por ser exato, não cabe em si.
Com tanto encantamento, a vaidade de Toffoli sobreveio com força total. Nesta segunda-feira, dia 12, durante evento do Lide em São Paulo, o presidente do Supremo criticou a percepção de que a operação Lava Jato virou uma instituição. Segundo os repórteres Francisco Carlos de Assis, Aline Bronzati e Bárbara Nascimento, que cobriram o evento para o Estadão, o ministro disse que a Lava Jato nasceu de acordos republicanos, feitos pelos Três Poderes, e afirmou que a operação “não manda nas instituições”.
INVEJA E ÓDIO – Em seguida, Toffoli foi destilando a inveja e o ódio acumulados. Afirmou que, durante os últimos anos, qualquer reação de algum poder em relação à operação foi percebida erroneamente como uma tentativa de acabar com a Lava Jato. “Não se pode permitir na República que algo se aproprie das instituições. (…) Temos que dizer isso abertamente. A Operação Lava Jato é fruto da institucionalidade, não é uma instituição”, disse, completando: “Um país não se faz de heróis, se faz de projetos”.
Em seu delírio, o petista Dias Toffoli, amigo e serviçal de Dirceu e Lula, já se acha vencedor. Considera a Lava Jato inteiramente destruída, Moro e Dallagnol estão na lona e ele, o juiz da luta, é que será carregado nos braços pelos torcedores.
DESFAÇATEZ – Sonhar não é proibido. Em breve Toffoli vai perceber que a Lava Jato não depende mais de Moro ou Dallagnol. É muito mais do que uma instituição, porque já se tornou um novo estilo de vida para os brasileiros. Enquanto Toffoli comemora, junto com Gilmar Mendes e outros defensores da “descriminalização da política, a Lava Jato faz cada vez mais operações, ampliando seu leque de atuação.
Toffoli entendeu tudo errado. A Lava Jato não morreu. E o Supremo tem onze ministros, e a maioria deles está calada, observando até onde vai a desfaçatez dos defensores da impunidade daqueles que enriquecem às custas dos recursos públicos e não percebem que tudo na vida tem um limite.