29/08/2019 às 11h35min - Atualizada em 29/08/2019 às 11h35min

Em CPI, Funaro acusa Ricardo Leal de ser “operador financeiro” de Rollemberg

Declaração do delator foi dada para integrantes da CPI do BNDES da Câmara dos Deputados, na tarde desta quarta-feira (28/08/2019)

CAIO BARBIERI
Metrópoles
delator da Lava Jato Lúcio Funaro declarou, nesta quarta-feira (28/08/2019), que Ricardo Leal era “o operador financeiro do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB)”. A declaração foi dada durante oitiva na CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) da Câmara dos Deputados, que durou todo o período vespertino. Antes, o delator que subsidiou a Operação Circus Maximus já havia informado aos investigadores do Ministério Público Federal (MPF) que o Banco de Brasília (BRB) abrigou um dos maiores esquemas de corrupçãodos quais ele tem conhecimento.
 

“O Ricardo Leal é o principal operador do ex-governador Rodrigo Rollemberg. Eu conheço ele [Ricardo] há praticamente 22 anos. Talvez ele seja um dos maiores players desse submundo do mercado financeiro, não só com BRB, mas com várias outras fundações, tanto a nível estadual quanto federal. O esquema era muito forte. Dentro do BRB, ele tinha controle total sobre o Vasco [Gonçalves], Nilban [de Melo Júnior], Adonis [Assumpção]… Toda a estrutura que estava ali instalada quem comandava era ele”, frisou, referindo-se a ex-dirigentes da instituição brasiliense investigados na Circus Maximus.

A declaração foi dada em resposta à pergunta da deputada federal Celina Leão (Progressistas) sobre o papel do ex-conselheiro do BRB no mercado financeiro e se houve transações financeiras ilícitas dentro da instituição local. Ao descartar relacionamento próximo com o ex-titular do Palácio do Buriti, Funaro sustentou à CPI que “a única vez” que esteve com Rollemberg “foi quando ele se candidatou ao governo pela primeira vez e não foi eleito”.

“Inclusive isso me trouxe muito problema de represália dentro da cadeia, quando eu estava preso, entendeu? Pelo fato de eu estar preso e o governador influenciando lá, para tentar represálias em mim, no [ex-senador] Luiz Estevão, de todo tipo”, emendou.

Questionado sobre quais retaliações teria sofrido por parte do governo local, o delator afirmou que, enquanto esteve no Complexo Penitenciário da Papuda, teve objetos pessoais confiscados. “Retirada de itens mínimos de sobrevivência no lugar, como travesseiros. Não deixavam entrar sabonete se não fosse branco. Era uma ala do presídio onde só ficam os vulneráveis, então não tinha a menor necessidade de se fazer isso. E ele [Rollemberg] veio mandar recado de que ‘se você falar meu nome ou do Ricardo [Leal] a situação vai apertar ainda mais’, entendeu?”, pontuou.

Lava Jato

Lúcio Funaro foi preso no escândalo da Petrobras, no âmbito da Operação Lava Jato. Depois, tornou-se delator. Funaro confessou diversos atos de corrupção e delatou políticos de alto escalão do MDB a fim de ter sua pena reduzida – entre eles, o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira. As informações dadas por ele também foram usadas pelo MPF para denunciar o ex-presidente Michel Temer (MDB).

Na CPI da Câmara dos Deputados, ele foi questionado sobre a licitude das transações feitas por Joesley Batista, do grupo J&F, dono da JBS, junto ao BNDES, além da relação profissional e pessoal entre os dois.

O outro lado

O Metrópoles procurou o ex-governador Rodrigo Rollemberg para comentar as novas acusações feitas pelo delator da Operação Lava Jato. Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o socialista sustentou que “a declaração do senhor Funaro não tem qualquer respaldo na realidade”. “Nunca tive operador financeiro. Em todas as empresas públicas do GDF, inclusive no BRB, as nomeações do governo foram pautadas pela qualificação técnica e sem interferência partidária”.

No texto, o ex-titular do Palácio do Buriti afirma que “sempre dei liberdade para que formassem as diretorias com base nesses mesmos requisitos. Nunca interferi nas decisões internas dessas empresas. Se algum desses dirigentes, em algum momento, cometeu alguma irregularidade ou ilegalidade, isso deve ser apurado na esfera competente”, registrou.

Sobre as supostas retaliações ao delator dentro do presídio público do Distrito Federal, Rollemberg preferiu não se manifestar.

A reportagem também procurou a defesa do ex-conselheiro do BRB Ricardo Leal, que não retornou os contatos até a última atualização da matéria. O espaço permanece aberto para manifestações.

Circus Maximus

Operação Circus Maximus foi deflagrada em 29 de janeiro de 2019, mirando a cúpula do BRB na gestão de Rodrigo Rollemberg. A ação apura irregularidades praticadas no banco envolvendo fundos de investimentos, com a atuação de agentes públicos, empresários e agentes financeiros autônomos.

Ricardo Leal e mais 16 pessoas foram denunciadas à Justiça Federal. Os réus respondem por crimes contra o sistema financeiro, corrupção, lavagem de dinheiro, gestão temerária, entre outros.

As investigações apontam para prejuízos de, aproximadamente, R$ 348 milhões ao BRB, participantes de fundos de pensão e Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), poupadores e ao sistema financeiro nacional. O suposto grupo criminoso teria movimentado R$ 40 milhões em propinas.

Colaborou Isadora Teixeira


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