Sábado, 06/09/25

O que é o Tren de Aragua, a gangue venezuelana alvo do ataque dos EUA

Yuri Cortez/AFP/Getty Images

Gangue tem origem prisional e estabeleceu presença nos EUA e em países da América Latina

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse na terça-feira (2) que o Exército americano realizou um ataque mortal no Caribe contra um suposto barco de drogas ligado ao cartel Tren de Aragua, um grupo venezuelano que ele acusa de tráfico de drogas, assassinato e outros atos de violência no Hemisfério Ocidental.

Onze pessoas foram mortas no ataque em “águas internacionais”, de acordo com o presidente dos EUA. Esta não é a primeira vez que Trump ataca a gangue.

Em 20 de janeiro, ele assinou um decreto que determinava que o Tren de Aragua e a gangue salvadorenha MS-13 fossem classificados como organizações terroristas estrangeiras. Posteriormente, o governo adicionou seis cartéis mexicanos de drogas à lista.

Em março, seu governo gerou polêmica com sua decisão de deportar mais de 200 pessoas, algumas das quais alegadamente eram membros do Tren de Aragua, para uma infame prisão de segurança máxima em El Salvador, embora as autoridades tenham fornecido poucas evidências de envolvimento de gangues e muitos dos deportados negassem estar ligados ao grupo.

Gangue tem origem sindical e prisional

O Tren de Aragua adotou seu nome entre 2013 e 2015, mas suas operações são anteriores a isso, de acordo com um relatório da Transparência Venezuela.

“Tem origem nos sindicatos de trabalhadores que atuaram na construção de uma obra ferroviária que ligaria o centro-oeste do país e que nunca foi concluída”, tanto nos estados de Aragua quanto de Carabobo, segundo o documento.

Os líderes da quadrilha operavam a partir da famosa prisão de Tocorón, que controlavam, segundo a reportagem.

Quando autoridades venezuelanas invadiram a prisão em setembro de 2023, encontraram uma piscina e vários restaurantes em seu interior, além de um esconderijo de armas controladas pelos detentos, incluindo rifles automáticos, metralhadoras e milhares de cartuchos de munição.

Autoridades venezuelanas dizem que desmantelaram a liderança do Tren de Aragua e libertaram a prisão de Tocorón, uma das maiores do país, do controle de seus membros.

Adam Isaacson, diretor de supervisão de defesa do grupo de defesa dos direitos humanos Washington Office on Latin America, disse à CNN que as sanções dos EUA ao Tren de Aragua provavelmente terão pouco efeito nas operações diárias do grupo.

No entanto, pode ser mais fácil dedicar mais recursos de inteligência e defesa dos EUA para persegui-los.

Tráfico de drogas, pessoas e assassinatos

O general aposentado Óscar Naranjo, ex-vice-presidente da Colômbia e chefe da Polícia Nacional Colombiana, chamou a gangue de “a organização criminosa mais perturbadora que opera atualmente na América Latina, um verdadeiro desafio para a região”, informou a CNN.

Na Colômbia, o Tren de Aragua e um grupo guerrilheiro conhecido como Exército de Libertação Nacional “operam redes de tráfico sexual na cidade fronteiriça de Villa del Rosario” e Norte de Santander, de acordo com um Relatório de Tráfico de Pessoas de 2023 do Departamento de Estado dos EUA sobre a Colômbia.

Os grupos criminosos exploram migrantes venezuelanos e colombianos deslocados no tráfico sexual, aproveitando-se de vulnerabilidades econômicas e submetendo-os à “servidão por dívida”, afirma o relatório.

A polícia da região relatou que a organização vitimou milhares de pessoas por meio de extorsão, tráfico de drogas e pessoas, sequestro e assassinato.

Atuação na América Latina e EUA

Durante anos, o Trem de Aragua – também conhecido como “TdA” – aterrorizou não apenas a Venezuela, mas também países como Bolívia, Colômbia, Chile e Peru.

“À medida que o Tren de Aragua se expandia, ele se infiltrava oportunisticamente em economias criminosas locais na América do Sul, estabelecia operações financeiras transnacionais, lavava fundos por meio de criptomoedas e formava laços com o Primeiro Comando da Capital (PCC), sancionado pelos EUA, um notório grupo do crime organizado no Brasil”, de acordo com o OFAC.

Um desafio para as autoridades policiais é a dificuldade de saber quantos membros do Tren de Aragua já estão nos EUA.

Alguns imigrantes venezuelanos na Flórida e em outros estados disseram à CNN que já estão começando a presenciar o mesmo tipo de atividade criminosa da qual fugiram na Venezuela.

O Insight Crime, um think tank dedicado ao crime organizado, disse em outubro que a “reputação do Tren de Aragua parece ter crescido mais rapidamente do que sua presença real nos Estados Unidos”.

“Além disso, não há evidências, até o momento, de que células nos Estados Unidos cooperem entre si ou com outros grupos criminosos”, segundo a Insight Crime.

“As autoridades também não revelaram nenhuma prova de que criminosos tenham recebido instruções específicas da liderança da organização ou enviado dinheiro para a Venezuela ou outros países estrangeiros.”

Estabelecendo presença além da fronteira

A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, bem como o FBI, disseram que a gangue está estabelecida nos EUA.

“Eles seguiram as rotas de migração pela América do Sul para outros países e criaram grupos criminosos por toda a América do Sul enquanto seguiam essas rotas, e parecem seguir a migração para o norte, para os Estados Unidos”, disse Britton Boyd, um agente especial do FBI em El Paso, Texas, conforme relatado anteriormente pela CNN.

Em dezembro, um casal foi sequestrado por um grupo de migrantes sem documentos em seu condomínio em Aurora, Colorado.

A polícia informou que eles foram amarrados, espancados e agredidos com coronhadas. Vários suspeitos foram identificados como membros do Tren de Aragua, de acordo com o chefe de polícia Todd Chamberlain.

O homem preso por agentes federais em Nova York estava entre os cinco suspeitos sob custódia na investigação de “crimes envolvendo a comunidade migrante da cidade”, disse a polícia de Aurora em um comunicado em janeiro.

No ano passado, Trump aproveitou os rumores de que o Trem de Aragua estava descontrolado em Aurora e aterrorizando alguns prédios de apartamentos.

O presidente americano descreveu a cidade como um prenúncio do que a migração descontrolada poderia significar para os Estados Unidos.

Correio de Santa Maria com informações da BBC News

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