Sexta-feira, 05/09/25

PSDB traça meta para Ciro Gomes no Ceará em busca de voto bolsonarista

Ciro Gomes – Reprodução

Chegada e candidatura passam por impulsionar eleição de deputados no estado; sigla evita falar, por ora, em voo presidencial

A filiação de Ciro Gomes, hoje no PDT, é tida como avançada no PSDB, apesar de o martelo ainda não ter sido batido. No momento em que o ex-ministro reforça ataques ao PT, os tucanos afirmam que o projeto é a candidatura ao governo do Ceará, comandado por ele entre 1991 e 1994 quando integrava as fileiras do partido, desta vez como opção de voto para a base do ex-presidente Jair Bolsonaro.

— O público bolsonarista do Ceará quer votar nele, digo com convicção. Conversei com sete bolsonaristas de cidades diferentes, estão doidos para votar no Ciro porque sabem que ele é referência de gestão — afirmou o presidente do PSDB no Ceará, Ozires Pontes.

Segundo Ozires, Ciro e o PSDB já estão conversando sobre a disputa do governo do estado e que, após se mostrar resistente, “hoje ele vê os números e não nega”. De acordo com o dirigente tucano, Ciro só não voltaria ao comando do estado se “ele ficar verborrágico”.

 O acordo para a candidatura, dizem dirigentes, passa também por impulsionar a eleição de deputados federais. Em 2022, o PSDB ficou sem nenhum parlamentar eleito pelo Ceará, unidade federativa governada por tucanos entre 1991 e 2007. Ciro Gomes, nas conversas recentes, ficou incumbido de turbinar até três nomes ao legislativo federal. A sigla evita falar, por ora, em voo presidencial, depois de o ex-ministro ter amargado o terceiro lugar no Ceará no primeiro turno na última corrida. Conversas com outros partidos para uma composição nacional ainda não foram colocadas à mesa.

Para o ano que vem, uma das metas tucanas a nível nacional é ter um bom desempenho na eleição para a Câmara, que é o que faz um partido sobreviver. A cláusula de barreira que começou a vigorar em 2018 e cresce a cada disputa exige resultados mínimos para que as siglas tenham acesso ao fundo partidário e a tempo de propaganda na TV e no rádio, entre outros direitos. Também é o montante de votos para deputado federal que determina a fatia de dinheiro público que cada legenda receberá nos quatro anos seguintes.

O provável embarque de Ciro marca uma rara adesão de um nome de peso ao PSDB nos últimos tempos. A tendência tem sido o oposto: outrora detentor de ampla capilaridade pelo país e de quadros de expressão da política nacional, o ninho tucano ficou ainda mais desguarnecido este ano com a saída dos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Pernambuco, Raquel Lyra, ambos para o PSD. ALém de Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, que vai se filiar hoje ao PP.

Opção antipetista

Na sexta-feira passada, Ciro protagonizou novo episódio de ataques ao PT do Ceará, com direito a mais acusações contra a mesma ex-senadora, Janaína Farias, que o levou a virar réu no ano passado por violência política de gênero após chamá-la de “assessora de assuntos de cama” do ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do estado.

Agora, em discurso no aniversário do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, o quatro vezes presidenciável voltou a atacar a atual prefeita de Crateús.

— A pessoa que recrutava moças pobres, de boa aparência, para fazer o serviço sexual sujo do seu Camilo Santana virou senadora do Ceará. Agora é prefeita num município do Ceará. E isso é um desafio para o qual os meus queridos amigos estão me chamando para encarar. É para eu encarar? Eu vou encarar — disse.

Em nota, a equipe de Camilo Santana afirmou que Ciro Gomes “terá que prestar contas na Justiça, em mais um processo, como tantos outros que responde, inclusive com condenação, por tentar macular a honra das pessoas”. Já a prefeita e ex-senadora classificou Ciro como “um misógino que, cada vez mais, diante de seu fracasso político, busca atingir a honra das pessoas, de forma irresponsável e inconsequente”.

Foi em 2022 que a aliança entre PT e PDT desandou no Ceará. Naquele momento, Camilo se desincompatibilizou do governo para disputar o Senado, deixando na cadeira Izolda Cela — que era do PDT, mas não do grupo de Ciro. Os petistas toparam apoiar a reeleição dela, mas o então presidenciável queria que Roberto Cláudio fosse o candidato do partido, o que de fato aconteceu e levou o PT a lançar candidatura própria. Elmano de Freitas, o petista, venceu a eleição no primeiro turno e é o atual governador do Ceará.

Recentemente, na esteira da oposição feita a Elmano e ao também petista Evandro Leitão, prefeito de Fortaleza, Ciro passou a se aproximar de bolsonaristas. Derrotado na eleição municipal no ano passado, André Fernandes (PL) disse em maio que “Ciro mostrou ser uma pessoa preparada e inteligente, com coragem também para enfrentar o governador Elmano”, antes de reforçar o desejo de unificar a oposição contra o PT na próxima eleição estadual.

 Outro ex-adversário que passou a elogiar Ciro foi Capitão Wagner (União), derrotado na eleição estadual de 2022 e na municipal do ano passado.

Histórico de ataques Assim que encerrou a primeira passagem pelo PSDB, em 1997, Ciro começou a criticar a legenda. Ao anunciar a candidatura presidencial na eleição do ano seguinte — concorreria pelo antigo PPS e ficaria em terceiro —, afirmou que se recusava a conversar com o presidente Fernando Henrique Cardoso.

 Até o ex-governador e ex-senador Tasso Jereissati, de quem se reaproximou nos últimos anos, foi alvo. Em 2016, ao analisar o cenário para as eleições de 2018, Ciro classificou um grupo da política cearense, incluindo Tasso, como “indústria de picaretas”.

No ano seguinte, outro cacique tucano entrou na mira: o ex-governador mineiro Aécio Neves, classificado por ele como “cadáver político”. Aécio é, ainda hoje, um dos principais quadros tucanos, com ativa atuação nas negociações partidárias.

Correio de Santa Maria, com informações do PSBD (CE)

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