Sábado, 06/09/25

Tentativa de golpe: coronel do Exército diz que reunião de kids pretos foi ‘ encontro de amigos’

O coronel do Exército Bernardo Romão Correa Netto — Foto: Reprodução

Investigação da PF aponta que reunião teve como objetivo planejar ações para pressionar comandantes a aderir ao golpe; militar nega

Em interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito do processo da trama golpista, o coronel do Exército Bernardo Romão Correa Netto afirmou que uma reunião entre os militares do Batalhão de Forças Especiais, conhecidos como “kids pretos”, em 22 de novembro de 2022, foi apenas um “encontro de amigos”. O inquérito da Polícia Federal apontou que o encontro teve como objetivo planejar e executar ações voltadas a pressionar os Comandantes do Exército a aderirem ao golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.

A investigação da PF que identificou uma tentativa de golpe de Estado no fim de 2022 que culminou nos atos de 8 de janeiro de 2023 apontou que a referida reunião, em Brasília, teve como objetivo ainda discutir “ações para atingir o ministro Alexandre de Moraes, denominado de ‘centro de gravidade’”. “Após a reunião, a denominada “Carta ao comandante do exército de oficiais superiores da ativa do exército brasileiro” e os generais contrários ao golpe de Estado foram expostos por Paulo Figueiredo”, informou a PF.

O coronel Correa Netto afirmou que o encontro do dia 28 não foi organizado por ninguém, que um militar foi chamando o outro, de maneira espontânea.

— O que houve foi um encontro de amigos do Forças Especiais. Geralmente, quando há muita gente reunida da mesma guarnição [na mesma cidade], (…) há encontro de militares da mesma especialidade — disse. Sobre os nomes que ele sugeriu para que participassem da reunião, conforme trocas de mensagens, Correa Netto afirmou que eram apenas militares do Forças Especiais que serviam em Brasília, mas que não houve motivo específico para o convite.

O militar ressaltou que o encontro foi informal, em um salão de festas de um prédio comercial, sem discussão operacional.

— Qualquer planejamento, principalmente feito por militares, ele precisa ter a ação, quem vai executar a ação, quando vai executar a ação, com que meios. E não existe nenhum planejamento ligado a nós que tem esses itens. Esse encontro eram só Forças Especiais,militares experientes, reunidos num salão de festas cercado de paredes de vidro, com pessoas passando, foi entregue pizza, refrigerante, durante duas horas de encontro. É impossível que um planejamento de Forças Especiais seja feito dessa forma. Por mais simples que seja, seria uma semana de planejamento, confinado — afirmou.

Em depoimento à PF, Correa Netto inicialmente negou conhecimento da referida reunião, mas depois admitiu participação. No relatório final, a polícia explica que dois dias antes do encontro, o coronel enviou uma mensagem a outro coronel dizendo que resolveu tomar uma iniciativa de reunir militares Forças Especiais “em funções chaves para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes”, referindo-se aos comandantes.

“A mensagem ratifica que a reunião seria somente com militares com formação em forças especiais, que poderiam de alguma forma, ‘influenciar’ os comandantes do Exército”, explicou a PF.

No mesmo dia pela manhã, Corrêa Neto enviou a outro coronel que participaria da reunião a minuta da “Carta ao Comandante do Exército e Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, que seria um dos temas da reunião, segundo a polícia. “Enquanto organizavam a reunião, os investigados já estavam colocando em prática ações para desestabilizar o Estado de Direito”, ressaltou a polícia.

Corrêa Neto afirmou que enviou a carta a pedido de um colega, que disse que seu chefe lhe havia solicitado o documento e ele o recebeu em um outro grupo de WhatsApp.

Correio de Santa Maria, com informações Supremo Tribunal Federal (STF)

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