A revista Forbes, referência em negócios e economia, aborda a crescente demanda por data centers e seus impactos ambientais.
Nos últimos meses, empresas de tecnologia anunciaram investimentos bilionários na construção de data centers. A Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, comprometeu-se com US$ 600 bilhões nos próximos três anos para desenvolver a infraestrutura essencial para a inteligência artificial.
No Brasil, o projeto de R$ 50 bilhões da Casa dos Ventos em parceria com a Omnia, do grupo Pátria Investimentos, será o maior empreendimento do setor, com consumo estimado de 300 megawatts (MW). A ByteDance, responsável pelo TikTok, será a única cliente da operação, com previsão de início em 2027.
Rodrigo Abreu, CEO da Omnia, afirma que o Brasil reúne “condições únicas” para liderar a expansão de data centers. “A expectativa é que o país se consolide como um hub estratégico de infraestrutura digital na América Latina.”
“O Brasil reúne um conjunto de características que o torna altamente atrativo, com um mercado interno de grande escala e uma matriz elétrica majoritariamente renovável. O avanço de programas federais, como o ReData, também reforça o potencial nacional para se firmar como um polo regional de tecnologia verde”, explica Wagner Rapchan, presidente da Local DC.
O Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter (ReData) foi oficializado pelo governo federal em setembro deste ano. O principal benefício da medida provisória para as empresas é a concessão de isenções fiscais em troca de aplicações no mercado nacional e do cumprimento de critérios de sustentabilidade — que ainda não foram definidos. Segundo a Associação Brasileira de Data Centers, o ReData “é um pacote que alinha competitividade com transição energética”.
Impactos Ambientais Preocupam Pesquisadores
Cientistas alertam para as consequências socioambientais dos centros de dados de larga escala. Nos Estados Unidos, maior mercado do mundo, com 3.955 data centers, moradores relatam escassez hídrica e aumento na conta de energia. Para especialistas, a ascensão do setor tende a retardar a redução de emissões de carbono.
De acordo com a BloombergNEF, se os data centers fossem um país, em 2035 seriam o quarto maior consumidor de eletricidade, atrás de EUA, China e Índia. A disponibilidade de energia continua sendo o principal desafio global do setor.
Uma reportagem do The New York Times revelou que, nos últimos cinco anos, residências americanas pagaram US$ 30 a mais nas contas de eletricidade. A principal razão é o crescente custo operacional das concessionárias de energia, causado pela sobrecarga da rede por instalações como data centers.
No Brasil, “sem investimento proativo em modernização da rede e soluções inovadoras de eficiência energética, existe o risco de aumento de custos que pode, indiretamente, afetar os consumidores”, comentou uma fonte do setor sob condição de anonimato.

No relatório “Não somos quintal de data centers”, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), pesquisadores destacam os desafios trazidos pela indústria de infraestrutura tecnológica para o país.
“Nos casos estudados, percebemos que os data centers estão sendo instalados pelas big techs em locais onde elas podem encontrar terra, água e eletricidade baratas, além de padrões ambientais permissivos. Esses processos têm sido associados a impactos, tais como, diminuição da qualidade da água e do acesso a ela, e problemas no fornecimento e alto custo da energia nas comunidades locais.”
Para o autor Noman Bashir, pesquisador de Computação e Impacto Climático do Consórcio de Clima e Sustentabilidade do MIT, as empresas de tecnologia que fizeram promessas de emissões líquidas zero provavelmente não as cumprirão, justamente porque os combustíveis fósseis correspondem por 56% da energia utilizada pelos data centers.
Um estudo publicado pela Nature em novembro deste ano revela que, nos cenários mais extremos, a construção dessas estruturas nos Estados Unidos pode gerar até 44 milhões de toneladas extras de dióxido de carbono por ano — mais do que países como Hungria, Portugal e Nova Zelândia emitiram em 2022.
Além da energia, o uso de água também aflige especialistas. Devido ao funcionamento contínuo dos servidores, os equipamentos aquecem e necessitam de uma fonte intensa e rápida de resfriamento — normalmente realizada por meio de sistemas hídricos.
“Um pequeno data center de 1 MW usando métodos tradicionais de resfriamento pode consumir cerca de 25,5 milhões de litros de água por ano. O consumo das unidades do Google aumentou cerca de 20% de 2021 para 2022 e aproximadamente 17% de 2022 para 2023. A Microsoft registrou altas de cerca de 34% e 22%, respectivamente. O consumo anual total de água nos EUA pode dobrar ou até quadruplicar em relação ao nível de 2023, atingindo aproximadamente de 150 a 280 bilhões de litros”, menciona o Idec.
Em julho deste ano, a BBC publicou o caso de Beverly Morri, moradora da Geórgia que, devido à instalação de um data center próximo, teve o abastecimento hídrico comprometido pela contaminação de seu poço particular por resíduos e sedimentos. “Não posso beber a água”, disse à publicação.
No caso da Omnia, Rodrigo Abreu reforça que “todos os empreendimentos seguem padrões rigorosos de gestão ambiental, eficiência no uso de recursos e diálogo permanente com as comunidades locais”. O executivo conta que foi desenvolvido um “Plano de Contrapartidas Socioambientais”, que prevê a capacitação profissional, fortalecimento da cadeia local de fornecedores e investimentos em pesquisa e desenvolvimento regional.
Energia Nuclear: Uma Solução?
Em resposta às crescentes preocupações, as big techs passaram a apostar na energia nuclear como alternativa para reduzir as emissões de carbono. Empresas como Google, AWS, Meta e Microsoft já anunciaram aportes em companhias e startups do setor, além da aquisição de pequenos reatores nucleares e plantas de usinas desativadas.
Ao contrário da energia solar ou eólica, os reatores operam 24 horas por dia e não dependem de variações climáticas, o que é crucial para o funcionamento ininterrupto dos data centers.
Em 2024, o Departamento de Energia dos EUA estimou que a capacidade nuclear do país poderá triplicar — de 100 gigawatts em 2024 para 300 gigawatts em 2050.
“Precisamos de mais energia na rede, e os pequenos reatores são a tecnologia mais promissora para isso”, afirmou Matt Garman, CEO da AWS, em entrevista à Forbes no último ano.
Embora a energia nuclear não libere gases de efeito estufa, ela exige a gestão de resíduos radioativos, mineração e envolve riscos de possíveis desvios de uso para fins bélicos.
No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não classifica a energia nuclear como uma fonte renovável justamente pela dependência de recursos minerais finitos.
Ao portal IFSC Verifica, o professor Vinicius Jacques, do Instituto Federal de Santa Catarina, afirma que “a escolha da matriz energética de um país tem implicações políticas, de os países serem governados no futuro por regimes que queiram usar esse potencial para fins não pacíficos e fazer um uso perverso da tecnologia”. A saída, para o acadêmico, é a regulamentação do setor.
A Dependência da Inteligência Artificial em Data Centers
Data centers são espaços físicos onde ficam concentrados equipamentos como servidores, sistemas de armazenamento e redes de comunicação. Na prática, eles funcionam como a “base operacional” da internet: é ali que dados são processados, guardados e disponibilizados para uso a qualquer momento.
A explosão da inteligência artificial ampliou essa demanda. Modelos de IA realizam bilhões de cálculos por segundo, armazenam volumes gigantescos de informações e respondem a milhões de solicitações simultâneas. Quanto mais avançadas e personalizadas ficam essas aplicações, maior é a necessidade de infraestrutura computacional — e, consequentemente, de data centers capazes de operar em larga escala.
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