Quarta-feira, 03/12/25

Família sobre retirada de qualificadora em morte de modelo: “Injusta”

Família sobre retirada de qualificadora em morte de modelo: “Injusta”
Família sobre retirada de qualificadora em morte de modelo: “Injusta” | Reprodução

A decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) de retirar a qualificadora de homicídio por motivo torpe do indiciamento de Grazielly da Silva Barbosa provocou indignação na família da influenciadora Aline Maria Ferreira da Silva (foto em destaque), 33 anos. A empresária responde pela morte da modelo, que realizou um procedimento de aumento de glúteos na clínica que ela administrava.

A família da vítima recebeu com perplexidade a retirada da qualificadora do homicídio, uma vez que presenciou a torpeza dos fatos e entende como injusta tal supressão. Ainda assim, mantém a esperança de que Grazielly seja devidamente condenada pelo homicídio, ainda que na forma simples, manifestou a advogada Julianna Andrade, que representa os parentes de Aline.

Por meio de nota, a advogada também reiterou a necessidade de que o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) avance na apuração do delito de adulteração de produto destinado a fins terapêuticos.

O laudo de autópsia confirmou a presença de óleo no local da aplicação no corpo da vítima — elemento absolutamente incompatível com o produto verdadeiro — reforçando a evidência de adulteração, afirma a defesa.

Durante o procedimento, Grazielly aplicou PMMA nos glúteos da influenciadora. Aline começou a ter febre e foi internada em um hospital de Brasília, onde morreu em julho de 2024.

Segundo a advogada que representa a família de Aline, a empresária, que se apresenta como biomédica, teria manipulado o produto de maneira irregular, preenchido manualmente as seringas e injetado na modelo uma substância aquosa e de procedência desconhecida.

Grazielly não possuía qualquer formação na área da saúde, não detendo também de habilitação técnica para atuar com produtos destinados a procedimentos estéticos ou terapêuticos. De acordo com o processo, ela utilizava substâncias falsificadas, importadas clandestinamente do Paraguai, sem qualquer garantia de identidade, qualidade ou segurança.

Soma-se a isso que o procedimento foi realizado em um estabelecimento totalmente desprovido de licença sanitária ou condições adequadas, expondo a vítima a riscos gravíssimos e absolutamente evitáveis. Trata-se, portanto, de um conjunto de condutas que evidencia a extrema gravidade do caso, destacou a advogada.

O Tribunal do Júri ainda não tem data marcada. Segundo o defensor de Grazielly, a sustentação será de que o homicídio foi culposo, ou seja, sem intenção de matar.

Relembre o caso

  • O procedimento da influenciadora foi realizado em 23 de junho de 2024, e ela morreu nove dias depois, em Brasília, após ser internada com dor e febre.
  • Grazielly se apresentava como biomédica, mas não tinha formação na área. A clínica em que o procedimento foi realizado não tinha responsável técnico nem alvará sanitário para funcionar, de acordo com a denúncia. A clínica foi fechada um dia após a morte da influenciadora.
  • De acordo com laudo cadavérico relatado na denúncia, a morte de Aline foi causada por falência múltipla de órgão, após choque séptico “com origem no tecido subcutâneo dos glúteos”.
  • PMMA é a sigla para polimetilmetacrilato, uma substância plástica com diversas utilizações na área de saúde e em outros setores produtivos, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera o PMMA de risco máximo; por isso, só ele deve ser administrado por profissionais médicos treinados.

Denúncia

Grazielly foi denunciada por homicídio com dolo eventual — quando se assume o risco de matar, mesmo sem intenção. O MPGO considerou que o PMMA foi aplicado “em ambiente e condições impróprias, sem a qualificação técnica necessária e sem observar minimamente os deveres legais de cuidados inerentes ao procedimento”.

De acordo com relatos ouvidos do marido e de uma amiga de Aline, que a acompanharam durante o procedimento, a influenciadora recebeu 30 ml de PMMA em cada glúteo. A aplicação durou menos de 20 minutos, informou o MP.

Na sequência, a denunciada, sem luvas, massageou a região da aplicação para espalhar o produto e aplicou curativos, diz a denúncia.

Ao sentir dor e febre, Aline ligou para a empresária no dia seguinte, relatou o MP. Grazielle orientou que a influenciadora tomasse alguns medicamentos e “a persuadiu a não procurar atendimento médico”, detalha o documento.

Visita da empresária

Quatro dias após o procedimento, em 27 de junho, Aline procurou um hospital em Brasília, onde morava, e foi internada, informou o MP.

Conforme a denúncia, ela chegou a receber uma visita de Grazielly, que foi ao hospital e aplicou um anticoagulante na influenciadora, “dizendo que era para evitar trombose”.

No mesmo dia, Aline foi transferida para a unidade de terapia intensiva (UTI) de outro hospital. Ela morreu cinco dias após a visita da empresária.

T LB

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