No início de 2025, o então presidente Donald J. Trump implementou tarifas abrangentes sobre a importação de alimentos, numa iniciativa auto-denominada “Dia da Libertação”, com o objetivo de impulsionar a autossuficiência dos Estados Unidos. Uma ordem executiva de abril daquele ano expressava a visão de que “uma nação não pode sobreviver por muito tempo se não consegue produzir seu próprio alimento”.
Entretanto, em um movimento inesperado, o governo recuou, emitindo uma nova ordem executiva que suspende as tarifas sobre determinados produtos agrícolas que não são cultivados ou produzidos em larga escala nos Estados Unidos. Entre os itens beneficiados estão café, bananas e suco de laranja.
Sobre a decisão, Trump declarou que se tratava de um “pequeno recuo em alguns alimentos”, exemplificando com o café, cujo preço estaria elevado. Ele expressou a expectativa de que os preços diminuam em breve, e descartou a necessidade de novas mudanças na política tarifária. As novas isenções entraram em vigor retroativamente a 13 de novembro.
Tarifas são impostos sobre importações, geralmente aplicadas para gerar receita ou proteger indústrias nacionais da concorrência estrangeira, encarecendo o uso de produtos importados. Em teoria, isso diminui as importações e incentiva o consumo de bens produzidos internamente, desde que estes estejam disponíveis.
Embora tarifas possam ter o efeito desejado em setores como o automobilístico, incentivando a produção nacional, elas não são eficazes para produtos que não podem ser facilmente cultivados ou produzidos nos Estados Unidos, como café e bananas.
Apesar da alta demanda por esses produtos, a produção interna é mínima ou inexistente. Importações de café de grandes produtores como Brasil e Vietnã enfrentavam tarifas de até 50%, assim como bananas da América Central e do Sul. O café, por exemplo, requer um clima tropical específico, solos ricos e alta umidade, condições encontradas no “Cinturão do Café”, que inclui países como Brasil, Colômbia, Etiópia e México. O Havaí é o único estado americano dentro dessa região, mas sua produção de café é insignificante em escala global.
Em setembro, o preço do café já havia subido mais de 40% em relação ao ano anterior, enquanto o custo das bananas registrava um aumento de quase 9%.
Para tentar conter a escalada de preços, a Casa Branca divulgou uma lista com mais de 100 produtos que deixaram de estar sujeitos às tarifas. A lista inclui café, cacau, chá preto e verde, favas de baunilha, frutas tropicais (como bananas e laranjas), especiarias (gengibre, canela e noz-moscada), carne bovina e castanhas.
As tarifas mais amplas, que afetam diversos produtos além de café e bananas, têm sido alvo de contestações judiciais, sob a alegação de ilegalidade. Em agosto, uma corte federal de apelações considerou que o presidente extrapolou sua autoridade ao usar a International Emergency Economic Powers Act (IEEPA) para impor as tarifas, alegando que o poder de tributar é constitucionalmente atribuído ao Congresso.
Apesar das contestações, Trump tem defendido as tarifas como fonte de receita, chegando a propor o envio de um “dividendo” de US$ 2.000 por pessoa, como forma de “dividir a riqueza”. A secretária do Tesouro mencionou que a medida poderia assumir outras formas, como cortes de impostos, mas que precisaria de aprovação do Congresso. A ideia dos cheques visa aliviar a preocupação dos eleitores com o custo de vida, especialmente após as eleições em estados como Nova York, Nova Jersey e Virgínia, onde a acessibilidade financeira foi um tema central.
Apesar das alegações do governo sobre a queda dos preços, o preço médio dos alimentos nos supermercados americanos em setembro estava 2,7% maior do que no ano anterior, segundo dados oficiais. Ao ser questionado sobre o recuo, Trump admitiu que algumas tarifas podem levar ao aumento de preços, mas insistiu que os Estados Unidos têm “praticamente zero inflação”.
Fonte: forbes.com.br





