Segunda-feira, 17/11/25

Derrotado na Câmara, governo fica com rombo de R$ 45 bi e vê disputa eleitoral como motivação

Lula e Tarcísio: governistas e oposição afirmam que governador de São Paulo atuou pela derrubada da MP — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Governador de São Paulo ligou para deputados e presidentes de partidos para garantir votos contrários à MP, dizem líderes

A decisão da Câmara de enterrar a Medida Provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Transações Financeiras (IOF) foi marcada pela antecipação de uma possível disputa eleitoral entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Partidos do Centrão se mobilizaram para que Tarcísio tivesse importância nas negociações e saísse fortalecido politicamente contra o petista. De acordo com relatos de líderes, o governador ligou para deputados e presidentes de partidos para garantir que a MP não tivesse votos.

Selfie e comemoração

Parlamentares a par das discussões acrescentaram que o governador agiu alinhado com os presidentes do PP, Ciro Nogueira, do União Brasil, Antonio Rueda, e do Republicanos, Marcos Pereira. Os três partidos fecharam questão e votaram alinhados contra a medida.

Em plenário, após a derrota, governistas tentavam digerir o resultado, enquanto parlamentares do Centrão festejavam e apontavam os celulares para o painel, registrando o momento para a posteridade.

O presidente do PSD, GIlberto Kassab, que é secretário de Relações Institucionais do governo Tarcísio, também atuou para fazer com que a maioria da bancada do partido votasse contra a MP.

Foram abertas exceções para as bancadas estaduais mais governistas, como Ceará, Bahia e Rio, mas o resto da legenda articulou contra. Integrantes do PSD disseram que Kassab não agiu diretamente no contato com a bancada, mas ligou para o líder da sigla na Câmara, Antonio Brito (BA), e deixou claro para ele que a legenda é “contra aumento de impostos” e, consequentemente, contra a MP.

Após articulação dos partidos do Centrão, um requerimento de retirada de pauta foi aprovado e a MP não pode ser votada a tempo, já que sua validade expirou ontem.

Apesar de toda a movimentação, Tarcísio negou ter participado de articulações envolvendo a MP.

— Claro que não (participei). Tenho um estado para tocar. Esse assunto é do Congresso. A minha agenda aqui é superpesada — disse.

Partiu para o ‘vale-tudo’

De acordo com a colunista do GLOBO Bela Megale, Tarcísio de Freitas afirmou a aliados que o governo Lula partiu para o “vale-tudo” ao acusá-lo de atuar junto a parlamentares do Congresso contra a aprovação da Medida Provisória.

A base do governo, por sua vez, demonstrou desorientação ao longo da votação. Os ministros do Esporte, André Fufuca (PP), de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), e do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), se licenciaram dos cargos para voltar à Câmara e participar da votação.

 “Se alguém quer misturar isso com eleição, eu só posso dizer que é uma pobreza de espírito extraordinária”- Lula, reclamando do clima de disputa eleitoral

Apesar disso, apenas Sabino votou. Fufuca não conseguiu chegar à votação a tempo e seu suplente, o deputado Alan Garcês (PP-MA), votou contra o governo. Já o suplente de Costa Filho, Bispo Ossesio (Republicanos-PE), não votou.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que a disputa eleitoral do ano que vem provocou a derrota governista na Câmara. — Estamos vivendo um momento eleitoral antes da hora, com isso perde-se a sobriedade — disse Wagner.

Sem citar Tarcísio, em um evento no Palácio do Planalto antes da votação, Lula reclamou do clima de disputa eleitoral.

— Se alguém quer misturar isso com eleição, eu só posso dizer que é uma pobreza de espírito extraordinária — reclamou.

Depois do resultado consolidado em plenário, Lula foi às redes sociais para dizer que essa era uma “derrota do povo brasileiro”.

“A decisão da Câmara de derrubar a medida provisória que corrigia injustiças no sistema tributário brasileiro não é uma derrota imposta ao governo, mas ao povo brasileiro. Essa medida reduzia distorções ao cobrar a parte justa de quem ganha e lucra mais. Dos mais ricos”, escreveu o presidente.

Pouco antes do resultado, já prevendo a derrota, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), reclamou da articulação do Congresso e culpou Tarcísio.

 — Quero rechaçar e acusar o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que está ligando, e ligou, para vários parlamentares, junto com o presidente do PP e o presidente do União Brasil. Fecharam uma frente aqui, achando que, ao fazer isso, vão tirar dinheiro do Lula, que o Lula vai ficar garroteado.

Assim como o petista, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), também associou o resultado a Tarcísio, mas celebrando a postura do governador.

Da tribuna, Sóstenes adotou tom eleitoral, ladeado por bolsonaristas.

— Quero agradecer ao governador Tarcísio, do estado de São Paulo, que inclusive já foi atacado porque começam a se preocupar com o Tarcísio. Você tem sido um gigante no diálogo com os presidentes de partidos de centro para que a gente possa fazer essa coalizão em prol do Brasil e contra o aumento de impostos — afirmou o líder do PL.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) lamentou que o Senado não tenha tido oportunidade de votar a medida provisória, já que o texto foi derrubado ainda na Câmara dos Deputados.

Disputa na esplanada Ele será o relator na Casa do projeto que isenta de Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil. Renan afirmou que não sabe se fará compensações em seu texto para “repor” receitas perdidas com a rejeição da MP IOF na Câmara.

 — Isso é muito ruim, acaba afetando as contas públicas, não apenas pela arrecadação das despesas, mas também por conter despesas, é lamentável (que o Senado não tenha votado a MP). Ainda não estudei a oportunidade de compensar algo no projeto do Imposto de Renda — diz.

“Claro que não (participei). Tenho um estado para tocar. Esse assunto é do Congresso. A minha agenda aqui é superpesada”- Tarcísio de Freitas, governador de SP, negando ter atuado na Câmara pela rejeição da MP

A derrota — pelo placar de 251 a 193 — ocorre em meio a uma disputa de União Brasil e PP com o Planalto sobre a permanência de Fufuca e Sabino na Eplanada.

No PP, 97% votaram contra a MP; e no União Brasil 90% — desconsiderando os deputados ausentes.

Dos 92 votos somados das duas siglas, 86 foram contra o Planalto. O posicionamento das duas legendas foi um contraste com o comportamento de outros partidos alinhados ao Centrão e também com ministérios no governo Lula, por exemplo.

O MDB e o PSD, por exemplo, se dividiram: nos dois partidos, cerca de 53% dos deputados votaram a favor e 47% contra. Mesmo o Republicanos, partido do governador Tarcísio de Freitas, embora tenha se posicionado majoritariamente contra a proposta, registrou dissidências à orientação do comando: 25% votaram a favor do governo.

Durante a semana, Lula criticou a postura de União Brasil e PP, que ameaçam punir ou até mesmo expulsar Sabino e Fufuca.

Correio de Santa Maria, com informações da Agência Câmara.

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