07/02/2020 às 07h14min - Atualizada em 07/02/2020 às 07h14min

Professor envenenado queria denunciar “rachadinha” em escola

Em áudio enviado a amigo, Odailton Charles fala em levar a acusação à Coordenação Regional de Ensino. Docente morreu na última terça-feira

VICTOR FUZEIRA
METRÓPOLES
Em áudio enviado a um amigo, o professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, denuncia suposto esquema de “rachadinha” no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte. Na gravação, o ex-diretor, que morreu envenenado por uma espécie de raticida, popularmente conhecido como chumbinho, afirma que iria levar a denúncia para a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto.

O docente se preparava para deixar o cargo de direção da unidade educacional e comentou que visitaria o colégio para se “acertar com o pessoal”. “Quinta-feira eu vou lá na escola, vou fazer os acertos com o pessoal: passar extrato bancário, essas coisas que eu tenho que passar. Estou recolhendo uns documentos particulares para fazer uma denúncia formal na [Coordenação] Regional de Ensino”, diz.

O educador continua dizendo que a denúncia envolveria “um dinheiro” deixado por ele no colégio. “Eles [os superiores] nunca repassaram para mim. Seguraram o dinheiro e agora estão utilizando da forma como eles querem, contratando a empresa que eles querem também. Acho que está havendo ‘rachadinha’ lá”, comenta.

Segundo Charles, a acusação do esquema partiu de dentro da escola. “Andei conversando com os colegas e está havendo ‘racho’ de dinheiro, propina para beneficiar empreiteiros. Por isso que eu indiquei dois ou três empreiteiros lá e eles não aceitaram de jeito nenhum. Seguraram o dinheiro até agora em janeiro. Agora, está de vento e popa, liberando dinheiro à vontade lá. Então, vou fazer essa denúncia, vou recolher tudo que eu tenho de prova, de gravação, e vou arrebentar a boca do balão lá.”

O professor termina o áudio manifestando, também, o interesse de levar o caso à Justiça. “Vou botar no pau esse povo, comigo vai ser tudo na Justiça”, finaliza. Em nota, a Secretaria de Educação (SEE-DF) disse aguardar as investigações policiais e a finalização do inquérito para se pronunciar.
 

A morte

As gravações ganharam notoriedade após a morte do docente, ocorrida nessa terça-feira (04/02/2020). Odailton Charles morreu envenenado depois de supostamente ter ingerido uma bebida contaminada com chumbinho. A suspeita inicial é que o veneno tomado estivesse em um suco oferecido a ele por uma colega.

Contudo, não houve comprovação de que ele tivesse ingerido o suco. “Achamos vestígios de raticida nas roupas e traços de vômito, mas nada relacionado a suco de uva”, explicou a perita criminal Flavia Pine Leite, que fez o exame nas vestimentas usadas por ele no dia do incidente, em 30 de janeiro.

A informação foi dada nessa quinta (06/02/2020). Em outro áudio enviado quando começou a passar mal, Charles desconfia de uma substância estranha em um suco que supostamente havia sido oferecido por uma colega. A servidora foi ouvida pela Polícia Civil e negou ter dado qualquer produto ao docente.

“Nós a ouvimos e ela foi firme em dizer que não ofereceu suco ao professor. Isso não quer dizer que ele não tenha bebido. As investigações continuam, muitas pessoas ainda serão ouvidas”, disse o delegado Laércio Rossetto, da 2ª DP (Asa Norte), que conduz as investigações sobre o caso.

A PCDF apreendeu dois aparelhos celulares de servidores da escola. “Vamos pedir uma série de medidas judiciais para ter acesso aos dados dos aparelhos”, afirmou Rossetto.

Metrópoles teve acesso com exclusividade ao prontuário médico do professor. O documento, emitido por médicos do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), aponta intoxicação. O docente estava internado na unidade de saúde até a última terça-feira (04/02/2020), quando morreu.

Nesta quinta, amigos e parentes de despediram do professor Charles. O enterro foi realizado no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.

A cerimônia de despedida ocorreu pouco após peritos do Instituto de Criminalística (IC) e médicos legistas do Instituto de Medicina Legal (IML) concluírem que o professor Charles, como era conhecido, morreu vítima de intoxicação provocada por um raticida.

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