12/05/2020 às 20h37min - Atualizada em 12/05/2020 às 20h37min

Justiça bloqueia bens de empresários que venderam respiradores ao estado do Pará

Governo justifica que modelo entregue é diferente do solicitado, Contudo, o modelo solicitado é alvo de críticas pela sua ineficácia.

Catarina Barbosa
- Brasil De Fato | Belém (Pa) - 12/05/2020 - 08:20:09

 

O MPF investiga também um possível superfaturamento. PA desembolsou R$ 126 mil por aparelho, enquanto MG pagou R$ 58 mil.
 
O governo do Pará comprou 400 respiradores para o tratamento de pacientes graves da covid-19. Um lote com 152 foi entregue na última segunda-feira (4), mas nenhum funciona. A decisão judicial afirma que o modelo entregue seria de "qualidade inferior". O governo explica que comprou o modelo Shangrila 510S F, mas que o fornecedor entregou o modelo ZXH-550 .
 
Neste domingo (10), os bens dos empresários envolvidos na transação foram bloqueados – a pedido da procuradora-geral do Estado – e seus passaportes apreendidos. Até agora foram pagos R$ 25,2 milhões, de um total de R$ 50 milhões.
 
O caso foi parar no Ministério Público Federal (MPF), que abriu um inquérito para investigar não só a compra dos produtos que não funcionam, como também um possível superfaturamento. 
Cada respirador no Pará custou R$ 126 mil aos cofres paraenses, enquanto Minas Gerais comprou respiradores em caráter emergencial por R$ 58 mil reais, e a prefeitura do Rio de Janeiro, por R$ 48 mil.
 

O governo só admitiu problemas com os respiradores depois que o MPF iniciou investigação sobre a compra. A administração de Hélder Barbalho (MDB) vinha negando que os aparelhos estivessem em uso, mesmo com as reclamações dos profissionais de saúde.

 

Shangrila 510S

 

Enquanto o governo justifica o caso dizendo que recebeu o respirador errado, o modelo de fato adquirido já foi alvo de críticas pela sua ineficácia. Em reportagem elaborada pela NBC News médicos denunciam a baixa qualidade do respirador modelo Shangrila 510S F – o que não foi entregue.

 

Os problemas com o respirador Shangrila 510 (Beijing Aeonmed), segundo os médicos, são vários: "o suprimento de oxigênio do equipamento era "variável e não confiável" e sua qualidade de construção "básica". Outro problema grave identificado é que o estojo de tecido do respirador não pode ser limpo adequadamente, o que é imprescindível para uso no tratamento da covid-19. "O equipamento foi desenvolvido para uso em ambulância e não para hospitais. Acreditamos que, se usado, pode causar danos significativos ao paciente, incluindo a morte", diz o trecho de uma carta assinada por uma associação de médicos da Inglaterra, país que também adquiriu esse modelo de respiradores.

 

Crise

 

Brasil de Fato entrou em contato com o governo do Pará para perguntar se houve pesquisa sobre a qualidade dos respiradores comprados e também sobre o prazo que esperam solucionar o caso, mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta.

 

Enquanto isso, o Estado contabiliza 709 vítimas da covid-19 até esta segunda-feira (11) e mais de 7.500 infectados. Atualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, o Pará é sétimo estado do Brasil com maior número de vítimas do novo coronavírus, ficando atrás, apenas, de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Amazonas e Maranhão, respectivamente.

 

Edição: Rodrigo Chagas


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