Recém-exonerado do Governo do Distrito Federal (GDF), o agora ex-secretário de Saúde Francisco Araújo irá se juntar aos outros presos na Operação Falso Negativo, no Complexo Penitenciário da Papuda.
Araújo estava detido na Papudinha, localizada no 19ª Batalhão da Polícia Militar (BPM). Enquanto chefe da pasta, ele tinha foro privilegiado e direito à prisão especial.
Além de Francisco Araújo, o governado Ibaneis Rocha (MDB) também exonerou, nesta segunda-feira (14/9), todos os gestores da pasta que também tiveram decretadas a prisão preventiva por suposto envolvimento em superfaturamento e direcionamento de licitações para compra de testes de Covid-19.
Em edição extra do Diário Oficial (DODF), o titular do Palácio do Buriti decidiu desligar Eduardo Hage Carmo do cargo de subsecretário de Vigilância à Saúde; Ramon Santana, de assessor especial da pasta; Eduardo Seara Pojo do Rego, de secretário adjunto de Gestão em Saúde; Iohan Struck, do cargo de subsecretário de Administração Geral. Com exceção de Iohan Struck, considerado foragido pelos investigadores, os demais estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda.
Também foram alvo da canetada do chefe do Executivo Ronan Pereira Lima, diretor do Fundo de Saúde do DF; Erika Mesquita Teixeira, gerente de Aquisições Especiais da pasta e, ainda, Emanuel de Oliveira Carneiro, diretor de Aquisições Especiais. O primeiro devido a mudanças na estrutura da pasta e os outros dois por terem sido denunciados à Justiça como integrantes do suposto esquema desvendado pela Falso Negativo.
Embora Francisco Araújo esteja oficialmente desligado, o atual secretário interino, Osney Okumoto, ainda não foi efetivado no cargo.
Veja a publicação:
REPRODUÇÃO / DODF
Nesta segunda-feira (14/9), a coluna Grande Angular, do Metrópoles, revelou que o desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Humberto Adjuto Ulhôa determinou o desmembramento da denúncia apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) no âmbito da Falso Negativo.
Com a decisão, apenas o processo do agora ex-secretário de Saúde Francisco Araújo continuaria tramitando no Conselho Especial da Corte. Ele era o único investigado com prerrogativa de foro. A partir da exoneração, Araújo deve se somar aos demais denunciados, que serão julgados pela 5ª Vara Criminal de Brasília – mas isso ainda precisa ser deliberado pelo TJDFT.
“Com o oferecimento da denúncia, a persistência, no processo, dos denunciados que não desfrutam, originariamente, da prerrogativa de foro, em face das inúmeras diligências que acarreta e dos numerosos incidentes que possibilita, sem dúvida retarda o andamento do processo neste tribunal, que, em face da singularidade do rito das ações penais originárias, já demanda maior tempo”, destacou o magistrado.
O desembargador também pontuou que a medida não prejudicará os demais denunciados que, de acordo com ele, “terão todas as oportunidades legais inerentes ao exercício do princípio do contraditório e ampla defesa em seus juízos naturais”. São dele as decisões que autorizaram as buscas e apreensões, bem como as prisões, da segunda fase da Falso Negativo, deflagrada em 25 de agosto.
Como mostrou a Grande Angular na última sexta-feira (11/9), 15 investigados pela força-tarefa foram denunciados.
Entre os crimes listados pelo MPDFT, estão os de organização criminosa, inobservância nas formalidades da dispensa de licitação, fraude à licitação, fraude na entrega de uma mercadoria por outra (marca diversa) e peculato (desviar dinheiro público).
O prejuízo estimado aos cofres públicos somente com as supostas fraudes em contratos para compra de testes rápidos da Covid-19 é de R$ 18 milhões. Com atualizações monetárias e danos decorrentes dos supostos crimes, os investigadores pedem que os acusados restituam R$ 46 milhões ao erário.
Na denúncia, o MPDFT pede “a condenação dos funcionários públicos à perda do cargo, bem como a interdição para o exercício de função pública pelo prazo de oito anos subsequentes ao cumprimento da pena”.
Foram denunciados pelo MPDFT:
Ao Metrópoles, a defesa de Francisco Araújo classificou a denúncia do MPDFT como “peça insubsistente”. “A acusação padece da falta de prova das alegações ali contidas. Por outro lado, o Ministério Público pediu a prisão do secretário, acusando-o de corrupto, mas não consta da denúncia a acusação de corrupção nem lavagem de dinheiro. Essa denúncia não pode prosperar”, afirmou o advogado Cléber Lopes.
Em nota, a defesa de Ricardo Tavares Mendes classificou a denúncia como “absurdo equívoco”. “A denúncia cita Ricardo Mendes pouquíssimas vezes, a partir de fatos que não configuram qualquer crime, e até mesmo cometendo o erro grosseiro de confundi-lo com outra pessoa de mesmo nome. Claramente, o Ministério Público errou ao mencionar um médico com longa carreira dedicada ao serviço público como suposto partícipe de irregularidades. A defesa tem a convicção de que o Judiciário não cairá nesse absurdo equívoco”, destaca o texto assinado pelos advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso.
Em nota, o Carnelós e Garcia Advogados, que representa a empresa Biomega – também investigada pelo MPDFT –, ressalta que os representantes da companhia não foram ouvidos durante as investigações. Leia o texto na íntegra:
“A denúncia contra diretores e funcionários da empresa é ato açodado, assim como também foi a deflagração de medidas de buscas e decretação de sequestro. Os representantes da companhia não foram sequer ouvidos para explicar as distorções identificadas nas investigações.
A empresa participou de um processo licitatório com outras concorrentes e venceu pelo menor preço.
A companhia informa que é um laboratório de análises clínicas, e não uma distribuidora de testes. Também não vendeu kits para testagem, mas sim a prestação de serviços para análise e determinação de laudos de exames laboratoriais referentes à covid-19.
Quanto aos insumos usados na prestação do serviço, esclarece que todos os testes utilizados nos serviços contratados pelo Governo do Distrito Federal têm aprovação da Anvisa.”