Uma reunião na casa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes , na noite dessa terça-feira, 29, selou a escolha do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga na Corte. Na tentativa de se aproximar do STF e da classe política, o presidente Jair Bolsonaro pediu ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) que fizesse a intermediação para o encontro.
Alcolumbre ligou, então, para Gilmar, que logo providenciou uma reunião em sua casa. O ministro Dias Toffoli , que deixou a presidência do Supremo no último dia 10, também foi convidado para a conversa. Com Kassio Nunes Marques a tiracolo, Bolsonaro fez elogios à Corte e afirmou estar confiante na independência e harmonia entre os Poderes.
Vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, Kassio teve a indicação aprovada pelos magistrados do STF, que foram surpreendidos com a escolha para a vaga de Celso de Mello . Até há pouco tempo, o nome do desembargador era cotado para ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A conversa na casa de Gilmar durou duas horas, das 19 às 21h00, e ocorreu em clima descontraído. Bolsonaro já esteve em outras ocasiões com Gilmar e vem se aproximando dele. Ao lado de Toffoli, o magistrado sempre aconselhou o presidente a baixar o tom quando protestos contra a Corte faziam barulho na Praça dos Três Poderes.
O favoritismo de Kassio na corrida ao Supremo pegou boa parte do governo de surpresa na manhã desta quarta-feira, 30. As suas boas relações, tanto no Congresso quanto no Judiciário, pesaram a favor da indicação. Segundo o Estadão apurou, o desembargador já tinha boas relações com Gilmar e com Toffoli.
Outro ponto a favor foi o fato de ser do Piauí. A possível indicação de Kassio é um gesto de Bolsonaro ao Nordeste, região da qual o presidente busca se aproximar, já de olho nas eleições de 2022.
Nas redes sociais, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, comemorou o favoritismo do conterrâneo.
Segundo integrantes do governo, o nome do desembargador surgiu e se apresentou como uma solução para os problemas de Bolsonaro, que tinha como opções os ministros da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e da Justiça, André Mendonça.
A avaliação é a de que os dois ministros ocupam cargos-chave e a indicação de qualquer um deles implicaria em uma obrigatória mexida no governo. Oliveira está também no comando da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), órgão responsável pelos atos jurídicos do presidente, e para o qual Bolsonaro não abre mão de uma pessoa de confiança.
Oliveira poderá ser indicado para uma segunda vaga no STF, no ano que vem. Até lá o escolhido por Bolsonaro no Supremo terá a tarefa de criar um ambiente menos hostil ao ministro, criticado por não ter um currículo jurídico robusto.