Comerciantes das asas Sul e Norte sentem no bolso e no cotidiano o aumento de assaltos na região. Para eles, falta policiamento. Alvo de um roubo e de uma tentativa em menos de um mês, os funcionários do restaurante Toro, na 104 Sul, estão assustados. Na madrugada de 1º de fevereiro, quatro criminosos armados com facas invadiram o lugar, renderam o vigia e fugiram com R$ 4 mil, uma televisão, quatro notebooks, um iPad, seis iPods, além de carnes e bebidas. Nesta semana, a Operação Mangiare da Polícia Civil prendeu os últimos integrantes de uma quadrilha especializada em ataques a bares e restaurantes do Plano Piloto. Nos últimos cinco meses, o grupo roubou cinco estabelecimentos e furtou quatro.
A reincidência de assaltos é frequente nos comércios da região. Apesar de a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social identificar uma redução nos índices desses crimes, os números seguem preocupantes. Na Asa Norte, em 2016, foram 49 ocorrências com violência e ameaça. O número é 12,5% menor do que os de 2015, quando se registrou 56 casos. A pasta, no entanto, não tem dados da Asa Sul. No Plano Piloto, houve, no total, 112 roubos a comércio, em 2016, e 139, em 2015.
Diante disso, restaurantes e bares investem em segurança. Os responsáveis pelo Toro, por exemplo, instalaram novas travas nas portas e alarmes após o assalto do início de fevereiro. “Investimos dinheiro e mais cautela”, disse o chef da casa, Hélio Rodrigues. Ainda assim, 25 dias depois, um ladrão tentou invadir o local. Desta vez, o vigia percebeu a ação e, com a ajuda de seguranças de outros restaurantes da quadra, impediu a fuga do suspeito até a chegada da Polícia Militar. “Trabalho aqui desde que inaugurou, há três anos, e sinto que está cada vez mais perigoso. Quem fica à noite vê carros passando devagar e olhando, sem contar o número de moradores de rua. Não podemos nem confiar na segurança pública, que está uma vergonha”, queixou-se Hélio.
Com um prejuízo de cerca de R$ 36 mil, o Miau que Mia, na 304 Sul, sofreu dois roubos em dezembro do ano passado. Em ambas as ocasiões, os bandidos renderam os vigias. “Na primeira vez, levaram vários televisores, algumas bebidas e arrombaram o cofre”, contou Jeremias César Neto, dono do estabelecimento. No segundo ataque, o bar estava com o estoque cheio de bebidas caras por causa do ano-novo. Para reforçar a segurança, os comerciantes da quadra contrataram mais um vigilante. “Não adiantou. Vieram aqui de novo, renderam os dois e levaram tudo. Só desta vez tive um prejuízo de R$ 22 mil”, complementou.
Agora, o local conta com novo sistema de segurança. “Temos câmeras, mas só ajuda a procurar o bandido depois (do crime). O problema é que aqui não tem patrulhamento da polícia nesses horários”, reclamou Jeremias. Segundo o proprietário, um dos funcionários reconheceu um suspeito como cliente. O criminoso havia frequentado o lugar pouco tempo antes do assalto.
Na 405 Sul, comerciantes vizinhos do Boteco do Juca, invadido em 10 de novembro do ano passado, contam que é difícil ver policiamento pela quadra. “Aqui, temos de investir em segurança. Instalamos câmeras e alarmes por toda a loja e pedimos a Deus para proteger, porque polícia não vemos”, comentou o chef Anderson Moraes, do Bardana Alimentação Saudável. Por lá, a loja é monitorada 24 horas por uma empresa especializada. “A presença dos seguranças contratados inibe um pouco a atuação dos assaltantes, mas estamos vendo que não é suficiente”, lamentou.
A Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social informou, por meio da assessoria de Comunicação, que monitora oito áreas do DF que concentram 65% de todos os crimes — as asas Sul e Norte estão no recorte. Também são acompanhadas Planaltina, São Sebastião, Estrutural, Ceilândia, Samambaia, Taguatinga e Santa Maria. Juntas, essas cidades apresentaram redução de 40,8% em roubo a comércio em janeiro deste ano, em comparação com o mesmo mês de 2016.
A pasta elabora, ainda, um estudo que indicará os dias, os horários e os locais de maior incidência das ocorrências. “A avaliação é feita a partir dos registros nas delegacias e orientam o trabalho tanto da Polícia Militar, na elaboração de estratégias para o policiamento ostensivo, quanto da Polícia Civil, para a desarticulação de quadrilhas e a investigação de crimes”, informou a nota.