A eleição para a Presidência da Câmara acabou colocando ao PT a constrangedora situação de vir a apoiar uma candidatura do MDB, partido organizador e principal beneficiário do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.
A maior bancada da Câmara, com 57 deputados, se reunirá nesta segunda-feira (4/1). Na pauta, está a possibilidade de apoio ao deputado emedebista Baleia Rossi à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e contra a candidatura bolsonarista do líder do Centrão, Arthur Lira. Parte minoritária do partido defende, no entanto, uma candidatura própria petista, o que poderia dividir a ofensiva contra Bolsonaro.
Em entrevista ao Metrópoles, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PT/PR), apontou que o possível apoio a Baleia Rossi seria “momentâneo” e precisa ser encarado como uma operação de “contenção do dano Bolsonaro“.
“O que nos motivou foi o contraponto ao Bolsonaro e a sua escalada autoritária”, disse a deputada petista. “Nossa decisão é contra os ataques que ele faz aos direitos e garantias individuais, à forma como ele se posiciona em relações a ditadura, e à condição dele de enfrentamento do Covid-19. Nós consideramos o Bolsonaro uma ameaça muito grande para o Brasil, por suas características fascistas que o levam a atuar como ele está atuando, de tentar comandar as instituições”, destacou.
Sobre as críticas recebidas pelo partido internamente e também de eleitores nas redes sociais diante do apoio aos partidos de centro-direita, Gleisi aponta que, no momento, o presidente da República é o “mal maior” para a democracia.
“Ele já tem um peso muito grande nas Forças Armadas, em uma parte do Judiciário e do empresariado brasileiro. Avaliamos que se ele ocupar os espaços mais relevantes da Câmara, nós vamos perder muito porque a escalada autoritária dele vai aumentar. Nós consideramos o Bolsonaro o mal maior neste momento”, destacou.
Gleisi rechaçou as críticas de que a sigla estava contribuindo para reforçar os partidos de centro e direita que disputariam com o PT — ou com qualquer outros candidato do campo da esquerda — a Presidência da República.
“A eleição da Câmara não dialoga com 2022. Não estamos ligados em fazer um bloco para as próximas eleições. Nós temos divergências profundas na pauta econômica desses partidos. A despeito se querem ou não essa negociação conosco na Câmara, os partidos de direita já estão se preparando para 2022. Já se prepararam nas eleições municipais. Para as próximas eleições presidenciais, eles têm a estratégia deles e nós, do campo da esquerda, temos que ter a nossa”, ressaltou.
“Um dos lados vai ganhar e os dois lados são fortes. Esse lado do Rodrigo Maia tem dificuldades de ganhar sem nós”, calculou. “A eleição da Câmara é pontual. É, para nós, uma prática de contenção de danos que estamos fazendo. É impedir que Bolsonaro tome conta de uma instituição que é importante na ordem democrática e também na definição de pautas para o Brasil. É não deixar que o obscurantismo vença”, ressaltou.
Entre as pautas a serem discutidas na reunião está a possibilidade de uma candidatura própria do partido. “Ficamos de discutir se lançaríamos uma chapa com partidos de oposição, para ir ao segundo turno. Até agora, a avaliação de partidos com quem estamos conversando — PCdoB, PSB e PDT — é que não deveríamos lançar uma candidatura própria porque há um temor de que uma divisão nesse grupo possa levar o Arthur Lira a ganhar no primeiro turno. Essa discussão não está tranquila ainda no PT”, explicou.
“Alguns companheiros nossos acham que deveríamos lançar candidato agora, para discutir uma pauta mais política, outros acham que deveríamos partir para essa negociação agora, com o candidato oferecido pelo bloco do Maia. É nesse pé que estamos”, reconheceu.
“Precisamos avaliar todas as situações e o PT tem que ter responsabilidade nisso. Não é uma coisa fácil e para mim também não é fácil. A gente sabe como Bolsonaro chegou ao poder e onde esses partidos estavam naquele momento da eleição do Bolsonaro”, ressalvou.
Entre os pedidos feitos pelo PT como condição de adesão ao bloco para a pauta da Câmara, está a votação de propostas como a garantia de uma renda emergencial enquanto durar a pandemia de coronavírus, ou mesmo um aumento no benefício pago pelo Bolsa Família. Além disso, o partido quer que a Câmara se comprometa a conseguir vacinas contra o coronavírus e incluiu o pedido de análise dos processos de impeachment já apresentados contra Bolsonaro.
“É isso que nós temos colocado. É para ter análise mesmo. Não é necessário abrir o impeachment amanhã, mas é para considerar o impeachment como um dos instrumentos que a Constituição oferece ao Congresso para barrar as insanidades do presidente, que já são muitas. Tem mais de 50 pedidos lá”, disse a deputada.
Além da carta que foi apresentada pelos partidos sobre procedimentos que a presidência da Câmara deve ser comprometer a adotar, nos achamos que temos que ter uma pauta política e a primeira delas é sobre avisa do povo. A gente precisa entrar em 2021 com a Câmara retomando seu protagonismo em oferecer saídas mínimas nesses momento de crise”, comentou Gleisi.
É preciso impor ao governo que tome medidas, nem que tenha que flexibilizar o orçamento, aumentando recursos para a área da saúde”, disse a petista.