O médico, com longa carreira na gestão de Saúde, criticou o projeto e fez alertas. “É uma perda de tempo e uma discussão idiota liberar a compra de vacina para empresas. Compra de vacina por empresas é imoral”, sentenciou.
No entendimento de Vecina, a mudança não ajudará o Brasil a acelerar a imunização. “Compra de vacina pelo setor privado é uma imoralidade, é antiético e ignorante. Não vai resolver o problema. Outra ideia de jerico é liberar a compra de vacinas que ainda não tenham o registro da Anvisa”, avalia.
O médico explica que, caso empresas sejam autorizadas a imunizar funcionários, o país terá bolsões de pessoas sem a proteção, o que aumenta o risco de transmissão da doença.
“A fila do SUS é organizada pelo risco de morrer. Se pessoas recebem antes desse público, está usurpando a possibilidade de alguém viver”, salienta.
A legislação atual permite a compra dos imunizantes pela iniciativa privada, mas exige que todo o estoque seja doado ao SUS até que a vacinação dos grupos prioritários seja concluída.
A mudança é defendida pelo novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Não é o momento de ficar ‘Ah, porque o privado vai furar a fila’. É preciso parar com isso, vamos nos unir”, declarou Queiroga. Fabricantes afirmam que não pretendem negociar com grupos particulares.
O Brasil ultrapassou 13 milhões de casos confirmados do novo coronavírus e mais de 340 mil óbitos em decorrência da doença.
Até o momento, o Ministério da Saúde aplicou 25 milhões de doses da vacina (entre primeira e segunda doses). Atualmente, o país é o epicentro da doença no mundo.
Com experiência em gestão de saúde pública, Vecina considera que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conduziu mal o enfrentamento da pandemia e que isso degringolou a situação do país.
“A condução é desastrosa. Estamos tratando essa doença com descaso. Não tivemos liderança, pelo contrário. Vimos negação do isolamento, do uso de máscara e de compra de vacina”, critica.
Para ele, o modo que o Ministério da Saúde estruturou a campanha de vacinação é ruim. “É erro em cima de erro. A forma de dirigir o Programa Nacional de Imunização (PNI) foi falha. Estamos vendo o resultado disso agora”, conclui.
Ele faz um alerta sobre a gestão do Ministério da Saúde. “A pasta está fragilizada. Perdeu técnicos e credibilidade. Tem que conquistar o mínimo de credibilidade com a sociedade. O Ministério da Saúde está extremamente fragilizado após a militarização que ocorreu na sua estrutura”, pondera.