Quando Lucyanna Melo, 32 anos, e Nathalia Leite, 30 anos, resolveram ir ao cartório localizado na Asa Sul, em Brasília, formalizar a união, o pensamento de que algo podia impedir o sonho não passou pela cabeça do casal. “Sabíamos dos nossos direitos e fomos com o pensamento de que ninguém iria atrapalhar nosso momento”, relembra Lucyanna.
Ela e a companheira fazem parte dos 8.780 casais homoafetivos que formalizaram seus casamentos em cartórios de todo o país de janeiro a setembro deste ano, um crescimento de 35,8% na comparação com o mesmo período de 2020. No ano passado, foram oficializadas 6.461 uniões estáveis do tipo.
Os dados são da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecido pelo STF há 10 anos, em maio de 2011.
Lucyanna e Nathalia, moradoras do Jardim Botânico no Distrito Federal, se conheceram antes da pandemia, e foi justamente por causa da crise sanitária que acabaram ficando mais unidas. “Estávamos praticamente pagando dois aluguéis, enquanto uma morava na casa da outra, então decidimos entregar um apartamento e morar juntas”, contam. Após conviverem sob o mesmo teto, decidiriam dar outro passo, e oficializaram a união.
“Pensamos: a gente está feliz, então, por que não [se casar]? Acordamos num dia ensolarado de junho, e fomos”, conta Lucyanna entre risos.
Situação parecida foi vivida por Marina Moreira, 24 anos. A jovem também se junta ao time das pessoas que formalizaram no cartório a união estável. A brasiliense casou com sua companheira, Ana Garrido, 27 anos, em janeiro deste ano. Morando na mesma casa em razão da pandemia, resolveram adiantar o matrimônio para viverem o sonho de fazer um intercâmbio fora do país após a vida voltar ao normal.
Ela conta que, no entanto, passou por uma situação desagradável durante a cerimônia. “A juíza de paz pediu desculpa desde o início da cerimônia porque teria que dizer que estaria unindo um homem e uma mulher para cumprir com o protocolo”, relata Mariana. “Nós não ligamos muito, mas reparamos que isso ainda está errado no processo.”
Gustavo Fiscarelli, presidente da Arpen, avalia que a diminuição de casos na pandemia possibilitou aos casais procurarem os cartórios para formalizar a união. “A procura por esses atos acontece no mesmo período em que o combate à Covid-19 começa a apresentar resultados em razão do aumento da vacinação”, diz.