A utilização das redes sociais como fonte de informação foi determinante para a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018 — e esse fenômeno pode se repetir. A conclusão é de estudo publicado na Revista Dados, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Segundo o levantamento, em 2018 o fato de Facebook, WhatsApp e YouTube terem sido utilizados como canais de informação sobre política quase dobrou as chances de voto em Bolsonaro. Apesar de este ano o cenário ser diferente — os candidatos entendem a importância da forte presença nas redes sociais digital —, para o professor Pedro Santos Mundim, da UFG e um dos autores do artigo, "o uso político dessas ferramentas, natural e normal, vai acontecer nessa eleição de novo".
"Quando o ecossistema midiático muda, muda a política também, já que os políticos são perseguidores de multidões. Acho que sim, a tendência (de as redes sociais terem impacto nas eleições) pode se repetir", aponta Mundim.
Entre as mudanças nos contextos de 2018 e 2022, para este ano há a regulamentação das rede sociais, firmada tanto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto pelas próprias administradoras das plataformas. Outro fator é o surgimento de um novo veículo, o Telegram.
"É uma mídia que não foi investigada em 2018, aparece agora e, talvez, tenha um efeito semelhante ao que o WhatsApp teve. Acredito que vai haver ainda essa correlação entre determinadas mídias com a maior probabilidade de voto do Bolsonaro", salienta.
Os pesquisadores fizeram uma análise estatística dos dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), realizado logo após o segundo turno das eleições de 2018. O trabalho mostrou que a pauta de costumes — com destaque para o discurso anti-pluralista, valores religiosos e de direita — teve um alto impacto nas redes sociais, do qual Bolsonaro se beneficiou.
Ao todo, foram entrevistados 2.506 eleitores, com 16 anos ou mais — a margem de erro foi de 2,2% (para mais ou menos). As chances de voto em Bolsonaro aumentaram em 97% entre os usuários que se informaram sobre política por meio do WhatsApp, e 62% a mais entre os que se informaram pelo Facebook. O estudo mostra também que as chances de optar pelo presidente foram maiores entre os evangélicos (83% eleita mais). Houve 23% menos chances de voto entre as mulheres e 45% menos chances entre os mais escolarizados.