“Não esperávamos que Caiado fizesse isso.” A fala é do vice-presidente do Sindicato Rural de Jataí Evandro Barros. Com uma voz que não disfarçava a decepção, o sindicalista classificou como “surpresa desagradável” a ideia do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) de taxar a produção do agronegócio em até 1,65%.
Vale citar, Caiado disse a 23 deputados, na quarta (9), que enviará ainda nesta semana um projeto de lei para criar uma contribuição sobre a produção do agro. O dinheiro arrecadado irá para um fundo que terá administração da Secretaria de Infraestrutura. A medida já ocorreu em outros Estados do Centro-Oeste. A justificativa é sanar a perda de arrecadação do ICMS em decorrência do governo federal.
Segundo Evandro, o agro passa por um momento de incertezas [por causa do próximo governo] e que neste momento esperava uma liderança para fortalecer e dar caminhos ao setor. Ele lembra, ainda, que na cidade, em 2019, o governador disse que não assaltaria “o bolso do produtor rural”. Após a divulgação da cobrança, um vídeo com as falas viralizou.
“Não assalto bolso do produtor rural do meu estado de Goiás, porque eu tenho produtor rural como meu aliado”, discursou o gestor estadual na gravação do encerramento do 26º Rodeio Crioulo Interestadual e da 21ª Expoagro, em Jataí. À época, 28 de julho, ele disse que o setor não teria surpresa sobre taxação. Ao lado dele estava presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), deputado federal Zé Mário Schreiner (MDB).
Para Evandro, a expectativa era que Caiado desse sustentação ao agronegócio. “E eu disse para ele [após a notícia]: ‘nossa situação não é diferente do Estado. Se está difícil para o Estado, também está para nós. Temos que cortar na carne e resolver’.”
Descontente e apreensivo, ele afirma que Caiado quer transformar o Estado em “cartão de visita” do País de olho em 2026. “Está com pretensão de candidatar à presidência, quer mostrar um estado positivo e produtivo em cima do produtor rural. É muito injusto.” De acordo com ele, o setor pediu voto para o gestor. “Agora como vamos justificar esse aumento ao produtor?” A expectativa dele é que a medida não passe na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego).
Maior impactado
Questionado quem seriam os mais prejudicados, o vice-presidente afirma que é o produtor de leite. “O pessoal já está no vermelho. Eles não sabem o que fazer, pois já estão contando o grão que jogam para a vaca comer. Eles já não tem mais onde mexer. Mas na realidade, vai impactar todo mundo, pois isso será repassado para frente.”
Ainda segundo ele, na prática haverá a bitributação. “Na matéria prima, no que produz, depois no industrializado de novo. Um sobre o outro.”