Cumprindo pena no Sistema Penitenciário Federal desde 2019, um dos presos mais conhecidos do país, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, diz não ser o mandante de execuções brutais feitas por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra policiais penais federais. No material ao qual a coluna teve acesso, com exclusividade, o líder máximo da facção paulista afirma que “não é um cara bonzinho”, mas não é um “psicopata” igual a Roberto Soriano, 49, o Tiriça, apontado pelo Ministério Público do estado de São Paulo (MPSP) como o número 2 na hierarquia do PCC.
Soriano, que está preso na Penitenciária Federal de Brasília, é acusado de ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo. O interno também é visto como o cabeça da “ala terrorista do PCC” — grupo radical que coordena morte de autoridades. Outros três criminosos ligados diretamente ao assassinato foram condenados pela Justiça neste ano. A coluna apurou que a facção fornece um auxílio mensal aos assassinos de policiais — o valor pode chegar a R$ 5 mil.
A servidora trabalhava na penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas. A psicóloga tinha a função de fazer consulta com os presos e acabou baleada na cabeça quando chegava a sua casa com o filho de 10 meses e o marido, um policial civil. As vítimas caíram em emboscada montada quando o condutor estacionava o carro. Ao menos quatro homens armados efetuaram vários disparos. O filho e o marido sobreviveram.
O crime, registrado em 2017, seria uma ação do PCC contra o regime rigoroso implementado no Sistema Penitenciário Federal. De acordo com investigações, a facção considera que os presos que integram o sistema sofrem “opressão” do Estado, uma vez que o esquema de segurança, por não ter visita íntima e pelo contato com advogados e familiares ser estritamente por meio de parlatório, não permite a entrada de drogas, celulares e, sobretudo, a entrega de bilhetes.
Informações obtidas pela coluna remetem a um diálogo de Marcola com interlocutores quando ele ainda estava detido na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). A primeira conversa ocorreu em junho de 2022. Na ocasião, o líder do PCC fala sobre a “imagem” que as pessoas têm dele. Camacho chega a dizer que não é um “cara bonzinho”, e, sim, “um cara perigoso de verdade”. Porém, pontua que não é a favor da “violência gratuita”.
Na fala, Marcola segue afirmando que não é da “política” dele matar agente penitenciário. Contudo, pontua que alguns já foram executados por determinação dele, “mas por outras circunstâncias”. Emenda alegando que “era espancado” na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, localizada a 600 km da capital paulista, onde cumpriu pena antes de dar entrada no sistema federal. Reforça que, no presídio federal, “sempre foi respeitado por todos os agentes”. O 01 do PCC desabafa sobre a suspeita de mandar matar servidores. Alega que “poderia se tornar um psicopata desses igual o Soriano” e que ele “não é isso”; “não é da natureza” dele.
Transferência
Em 25 de janeiro deste ano, Marcola voltou à Penitenciária Federal em Brasília. A transferência foi autorizada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que afirmou ser uma prevenção contra “um suposto plano de fuga ou resgate”. Marcola estava na penitenciária de Porto Velho, Rondônia.
A mudança foi realizada com forte esquema de segurança, em uma operação especial da Secretaria Nacional de Política Penais. Flávio Dino argumentou que “essa operação se fez necessária para garantir a segurança da sociedade”.