Embora protegida pelo segredo de Justiça, decretado pelo Judiciário, o maior escândalo envolvendo prefeitos de Santa Catarina, que já deteve sete mandatários e um vice (confira a lista a seguir), revelado na Operação Mensageiro, do Gaeco e Geac, ambas estruturas do Ministério Público, tem sido destrinchado em vazamentos seletivos e já pode ser montado, em boa parte, em um quebra-cabeça estimado em cerca de R$ 430 milhões de prejuízo aos cofres municipais.
O último ato de uma “operação paralela”, que tenta desqualificar ora os prefeitos envolvidos ora as empresas que possuem contratos com os municípios, aparece em um despacho da ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, que negou um habeas corpus ao empresário Altevir Seidel, da Serrana Engenharia, uma das empresas investigadas no esquema ilícito que tem a coleta e depósito de lixo como pano de fundo.
A peça jurídica praticamente sepulta o segredo de Justiça, pois revela que, no pedido de prisão determinado pelo Tribunal de Justiça catarinense, havia robusta prova de campana com vídeos gravados na entrega de dinheiro aos prefeitos, inclusive com registros de maços de notas na frente da casa de um dos mandatários detidos.
O acompanhamento investigatório durou um ano e meio e sustenta a versão, ainda especulativa, de que os corruptores faziam um roteiro de Uber ou carros alugados, que parava de cidade em cidade em determinado dia do mês e um emissário levava dinheiro às residências dos agentes públicos – prefeitos, vice e secretários – e as mochilas que continham os valores não retornavam aos veículos.
Em outro ponto do despacho, é possível ter a noção de quais dados fundamentaram os pedidos de prisão preventiva dos 22 envolvidos já detidos na Operação Mensageiro, alguns desde 8 de dezembro passado.
Para o Ministério Público, conforme consta nos autos, somente a Serrana Engenharia (que tem sede em Joinville), que sempre negou o envolvimento na corrupção, pagaria em propina a agentes públicos e prefeitos quantia superior a R$ 100 milhões, contabilizada em planilhas bem elaboradas, encontradas com os empresários, como o verificado na Operação Lava Jato com empreiteiras.
Do total de R$ 34,3 milhões em contratos assinados, ainda segundo o MP, R$ 4,5 milhões (13,09%) seriam para corrupção de agentes públicos, o que assegurava, depois de realizado o trabalho de coleta e depósito do lixo, um lucro à empresa corruptora de R$ 19,5 milhões (56,95%).
Neste contexto, há a especulação de que as “mesadas” aos prefeitos seriam de R$ 50 mil por mês, como no caso de Antonio Ceron (PSD), de Lages, ou Joares Ponticelli (PP), de Tubarão, que administram algumas das maiores cidades catarinenses.
É sobre estes dados apurados pelo Gaeco, que combate organizações criminosas, e o Geac, responsável por enfrentar a corrupção, que a investigação da Operação Mensageiro está centrada.
Aliás, há inquéritos abertos no Judiciário para investigar os responsáveis pelo vazamento das informações.
Quem são os prefeitos presos na Operação
O clima entre muitos mandatários tem sido de tensão, até porque algumas outras prefeituras são atendidas pelas empresas investigadas, em contratos milionários, e a informação que corre no âmbito municipal é a de que, passado o Carnaval, as ações de Gaeco e Geac, que contam com o apoio de delegados e policiais civis, e policiais militares, ganhará nova ofensiva.
A lista de prefeitos e vices já presos:
• Marlon Neuber (PL), de Itapoá;
• Joares Ponticelli (PP), de Tubarão;
• Antônio Ceron (PSD), de Lages;
• Luiz Henrique Saliba (PP), de Papanduva;
• Deyvison Souza (MDB), de Pescaria Brava;
• Vicente Corrêa Costa (PL), de Capivari de Baixo;
• Antônio Rodrigues (PP), de Balneário Barra do Sul;
• Caio Tokarski (União), vice de Tubarão;