22/07/2023 às 06h35min - Atualizada em 22/07/2023 às 06h35min

Cracolândia: após “derrapada” de Tarcísio, internação compulsória ganha força

Em meio a tumultos nas ruas e recuo sobre ação na Cracolândia, plano da internação compulsória ganha força nas gestões Tarcísio e Nunes

Após o recuo do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em transferir a Cracolândia de lugar, classificado como uma “derrapada” por aliados dele, ganhou força dentro do governo estadual o plano já defendido pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) de promover a internação compulsória de dependentes químicos que estão há anos consumindo drogas nas ruas de São Paulo.

A defesa da medida, que é tida como extrema e criticada por parte da comunidade médica, passou a ser considerada por Tarcísio nessa quinta-feira (20/7), em meio a novos conflitos no centro da capital paulista e aos desgastes causados por tentativas frustradas de retirar o fluxo, como é chamada a concentração de usuários de drogas da Cracolândia.

No início da semana, Tarcísio divulgou o plano de levar a Cracolândia da região dos Campos Elíseos para o Bom Retiro, também na região central, onde os usuários ficariam mais perto do Hub que trata os dependentes químicos e de outras unidades de saúde e de acolhimento da Prefeitura de São Paulo.

A proposta, no entanto, motivou protesto de moradores do bairro e pegou de surpresa o próprio prefeito Ricardo Nunes, aliado do governador, que tem defendido abertamente a internação compulsória. Logo depois de desistir da ideia, na quinta-feira, Tarcísio se reuniu com Nunes para tratar de ações que podem ser adotadas na região. O encontrou durou mais de uma hora.

Internação compulsória
Interlocutores dos governos Tarcísio e Nunes confirmam que a proposta de obrigar a internação de dependentes químicos, embora nunca tenha saído da mesa, tem sido mais discutida neste momento.
Para tentar convencer os opositores da pauta, os defensores sustentam o discurso que a internação teria caráter “humanitário” e representaria, na verdade, uma “ajuda” aos dependentes químicos – uma vez que 57% dos frequentadores estaria na Cracolândia há pelo menos cinco anos, e 39% há mais de dez.

“É óbio que quem está há tantos anos sob o efeito do crack tem dificuldade de ter discernimento sobre o seu tratamento. Então, eles estão muito resistentes a aceitar o tratamento. Evidentemente, é uma situação extrema que, com a prescrição do médico e concordância do Judiciário, a Prefeitura vai dar todo o acolhimento para a internação para salvar a vida dessas pessoas”, disse Nunes à CNN.

Desde que assumiu o governo de São Paulo, Tarcísio afirma publicamente que “não descarta a internação compulsória” e que a medida representa “a última opção da cesta”. Já os críticos questionam a eficácia da internação feita à revelia do paciente e afirmam que a medida, se aplicada em massa, enfrentaria falta de vagas em hospitais de São Paulo. A internação só pode ser feita com prescrição médica e, em alguns casos, mediante decisão judicial.


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