15/07/2017 às 07h58min - Atualizada em 15/07/2017 às 07h58min

Grupo de extermínio cobrou R$ 10 mil para matar jovem, diz investigação

Após nove meses de investigação, a Polícia Civil do DF desvendou o assassinato de Anna Rita Rodrigues, morta no Núcleo Bandeirante no lugar da mãe. Crime cometido por uma quadrilha foi encomendado pelo ex-padrasto da vítima

Correioweb
Acusados na cadeia: grupo também é acusado de matar jornalista e político em Santo Antônio do Descoberto
Nove meses após o assassinato de uma jovem de 21 anos em uma loja do Núcleo Bandeirante, a Polícia Civil do DF chegou a um desfecho para o crime. Em uma reviravolta nas investigações, o que era considerado latrocínio (roubo com morte), tornou-se um crime encomendado pelo ex-companheiro da mãe da vítima. Yuri Hermano Tavares de Brito, 42, acertou pagar R$ 10 mil para uma organização criminosa matar a ex-namorada. No entanto, por causa da semelhança entre mãe e filha, o atirador assassinou Anna Rita Graziela Rodrigues com dois tiros na cabeça. Ele pertence ao mesmo grupo de extermínio que cometeu duas execuções em Santo Antônio do Descoberto.
 

 
A tragédia começou a se desenhar em 2007, quando Gilvana Rodrigues Teles, 40, se envolveu com Yuri por alguns meses e engravidou. Durante a gestação, no entanto, um familiar dela disse a ele que a mulher teria um suposto amante. Além disso, planejava matá-lo. As investigações da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) levantaram, ainda, que, nos anos seguintes, ambos passaram a se ameaçar de morte e a registrar ocorrências de injúria. Nesse período, a filha do casal nasceu. “A DRF acredita que a intenção do Yuri, com a morte da Gilvana, era de não ter a mínima possibilidade de esta criança vir a residir com a mãe”, afirmou o delegado responsável pelo caso, Fernando Cesar Costa.Em 21 de outubro do ano passado, o histórico de intrigas e desavenças familiares resultou na morte de Anna Rita, filha de outro relacionamento de Gilvana. A jovem estava na fábrica de caixa d’água da mãe, no Setor Placa da Mercedes, no Núcleo Bandeirante, quando um suposto assaltante anunciou o crime, roubou o celular de uma funcionária e pediu também o telefone de Anna Rita. Sem ter um aparelho para entregar, foi atingida por dois tiros. O homem fugiu em um Palio vermelho, levando a polícia a acreditar que havia ocorrido um latrocínio.
A linha de investigação mudou para homicídio no momento em que se analisou as circunstâncias do crime. “Um homem que efetua disparos de arma de fogo, atinge a cabeça da vítima, sai do local sem carregar nada, entra em um carro, que já estava à sua espera... Ele não foi para roubar”, disse Fernando Cesar. A loja é de uma empresa que confeccionava caixas d’água de metal. Pertence à família de Gilvana. À época, a mãe de Anna Rita informou que um envelope com R$ 20 mil havia sido roubado, mas as câmeras de segurança revelaram que o suspeito tinha só um celular na mão.
 
Além disso, os funcionários disseram que, em nenhum momento, o criminoso se aproximou das mesas ou das vítimas. Mesmo assim, as testemunhas ajudaram a confeccionar o retrato falado do motorista do carro e do atirador. “Nós percebemos que estávamos diante de um grupo organizado para a prática de homicídios no DF e no Entorno. Então, conseguimos estabelecer que, neste crime, participaram cinco pessoas”, detalhou o delegado.
 
Em junho, ou seja, nove meses depois do crime, a polícia prendeu Cícero Nunes de Lima, identificado como motorista do Palio. Também foram detidos Yuri Hermano, apontado como mandante; Joabis Rodrigues Batista; Janilene Ferreira Lima, que teria pegado a foto de Anna Rita e apontado como Gilvana; e o autor dos disparos, Lucas dos Santos Almeida. Jermaine da Silva Rocha continua foragida. Na apresentação dos acusados à imprensa, Joabis foi o único se defender, dizendo que não tinha participação no assassinato. Mesmo com o erro de alvo, a organização criminosa recebeu R$ 4 mil dos R$ 10 mil acertados com Yuri.
 

Execuções

 
Durante a investigação, alguns detalhes atrapalharam o trabalho policial, como o suposto envolvimento de alguém sem relação com o crime do Núcleo Bandeirante e inúmeras ocorrências criminais contra Gilvana. “Conflito com clientes das lojas, com pessoas com quem mantinha relacionamentos, ameaça, injúria, processos criminais em andamento, isso tudo trazia dificuldades”, explicou o delegado Fernando Cesar.
 
Yuri conheceu a organização criminosa por meio de Jader Nei Rodrigues Barbosa, um fazendeiro do Entorno que contratava os serviços do grupo. Ele também é considerado foragido. De acordo com a apuração, ele comprava terras invadidas, contratava a quadrilha para expulsar as pessoas à força do terreno e, depois, revendia essas propriedades com alto lucro. A suspeita é de que ele tenha fugido, com a família e os empregados, de uma cidade goiana vizinha ao DF.
 
Ainda segundo o delegado, a DRF também conseguiu chegar a indícios da participação desse mesmo grupo criminoso em outros dois homicídios. Um deles é o do então vice-presidente do PR em Santo Antônio do Descoberto, Paulino Rodrigues da Silva. Ele foi assassinado na porta de casa, em agosto do ano passado. O pastor chegou a ser socorrido e levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
 
Outro caso foi o do jornalista João Miranda, assassinado também na porta de casa, em julho de 2016. Os criminosos confirmaram o nome da vítima antes de atirar. João tinha um site de notícias, no qual publicava informações contra o governo e denunciava casos de tráfico de drogas no município goiano (leia Memória). A polícia ainda não descobriu quem contratou o grupo de extermínio nos dois últimos assassinatos. “Tirando o Cícero, todos eles moram em Santo Antônio do Descoberto. O polo do grupo é de lá. Não só de homicídio, como tráfico de drogas em Goiás e no DF, além de roubos a chácaras nas regiões”, detalhou Fernando Cesar.

 

Memória

 
Sete tiros
 
O jornalista João Miranda do Carmo foi executado, aos 54 anos, em 24 de julho de 2016, na porta de casa, em Santo Antônio do Descoberto. A vítima tinha o site de notícias locais SAD Sem censura e morreu assassinado por, pelo menos, sete tiros, segundo a Polícia Militar. Testemunhas disseram que dois ocupantes de um Palio vermelho se aproximaram do local, gritaram o nome de João Miranda e efetuaram os disparos. O SAD Sem censura fazia denúncias de irregularidades na administração municipal, assim como de assassinatos na cidade. A última postagem do jornalista foi sobre a morte de uma jovem de 20 anos, publicada dois dias antes da execução. Douglas Ferreira de Morais, 40 anos, chegou a ser preso como principal suspeito do crime, mas, depois de três meses, acabou solto. Ele declarou ter um álibi para a noite do crime.

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