Professor que encontrou menino desaparecido em Jataí também é autista: ‘Deus me guiou’

Marco Antônio de Oliveira

25/03/2025 08h06 - Atualizado há 6 dias
Professor que encontrou menino desaparecido em Jataí também é autista: ‘Deus me guiou’
Professor que encontrou menino desaparecido em Jataí também é autista: 'Deus me guiou' (Foto: Arquivo Pessoal)

Eram 2h30 desta segunda-feira (24) quando o professor de reprodução animal do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Jataí, Marco Antônio de Oliveira, encontrou o menino Miguel, criança autista de 4 anos que ficou desaparecida por cerca de 8 horas no município. O docente de 58 anos, que acordou às 23h30 do dia anterior com um pedido de ajuda, também foi diagnosticado no transtorno do espectro autista (TEA) aos 36 anos. “Deus me guiou”, revelou sobre a busca.

Ele afirma que a condição nunca influenciou ou atrapalhou. “Pelo contrário, tenho hiperfoco, então só ajudou. No máximo, um pouco de irritabilidade.” O hiperfoco é um estado de concentração intensa que pode, inclusive, ter ajudado nas buscas de Miguel, encontrado por ele em um milharal.

Marco contou que dorme cedo, mas que recebeu uma ligação da esposa às 23h30 de domingo (23). Ela informava que João Paulo, um amigo do grupo de Colecionadores, Atiradores Desportivo e Caçadores (CAC), reunia pessoas para procurar por Miguel e auxiliar as autoridades. “Eu estava sozinho em casa, pois minha esposa cuidava do pai dela, que fez uma cirurgia. Peguei minhas lanternas, radiocomunicador, equipamentos, um pouco de comida e fui ajudar.”

O professor encontrou bombeiros e várias pessoas no local de buscas. Perguntou onde era a área de busca para poder ampliá-la. Com um amigo, desceu em sua caminhonete rumo a um haras e voltaria procurando a pé – conhecia bem a região. Como o veículo atolou e havia um carro da Polícia Civil próximo, pediu ao amigo para ficar e seguiu andando.

Quando chegou ao haras, viu lanternas do lado direito e resolveu ir para o esquerdo, na plantação de milho. Já tinha andado por cerca de 2 km quando ouviu “papai”. Ele pensou estar imaginando, pois disseram que Miguel era um autista não verbal. O professor desligou a lanterna e ficou em silêncio. Ouviu novamente: “Papai.”

Foi, então, clareando no rumo do som até iluminar uma “cabecinha”, a cerca de 50 metros. “Eu disse para ele: ‘Meu filho, vou te levar para o seu papai. Fica quietinho que vou te buscar’.” O garoto obedeceu e esperou. “Ele estava molhado e pedia o papai. Eu disse que ia levar. Embrulhei o menino em minha jaqueta e pedi pelo rádio para o meu amigo deixar o carro e vir encontrar comigo e me ajudar a carregar.”

Logo, a Polícia Civil e as demais autoridades chegaram para atender o menino. O professor se preocupou, pois o garoto contava uma “história de cobra”. Mas ele não tinha ferimentos.

Questionado sobre o sucesso das buscas, Marco diz que foi Deus. “Me guiou.” Além disso, ele ressalta a solidariedade do povo de Jataí. “Tinha muita gente procurando. Pessoas mais velhas, mais novas, CACs… A população está de parabéns”, disse o professor ao revelar que ainda não processou tudo que aconteceu. “Sou um cidadão comum, de 58 anos, nunca nem tinha dado uma entrevista.” Ele é professor atua na UFJ há 25 anos.

Buscas pelo menino Miguel

O garoto havia sumido por volta das 18h de domingo (23), nas proximidades do Setor Cidade Jardim II. Equipes de resgate dos bombeiros juntamente com a Polícia Militar, familiares e moradores participaram das buscas, que duraram cerca de oito horas. Para otimizar o trabalho e superar as dificuldades causadas pela chuva intensa, o terreno foi mapeado e dividido em setores. As equipes foram organizadas em grupos distribuídos estrategicamente para cobrir toda a extensão da plantação e áreas próximas. Lanternas e veículos apropriados foram utilizados para facilitar a locomoção e garantir a varredura total da área.

A criança autista que desapareceu em uma plantação de milho foi localizada por volta das 2h30, consciente, molhada e com sinais de cansaço devido à distância que havia percorrido. O menino recebeu atendimento no local e, em seguida, foi levado ao Hospital Estadual de Jataí, onde passou por avaliação médica e foi liberado.

A mobilização contou com o apoio de fazendeiros e caçadores da região. Os bombeiros destacaram que a participação da comunidade foi essencial para o resgate.


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