19/08/2017 às 07h18min - Atualizada em 19/08/2017 às 07h18min

Bruno Lins, conheça o 'atleta fantasma' que assombrou Renan Calheiros

Principal acusado de receber dinheiro desviado do Bolsa Atleta já teve o nome ligado a outros escândalos

O principal personagem da Operação Havana, deflagrada na sexta-feira (18/8) e que descobriu a existência de esportistas fantasmas beneficiados pelo programa Bolsa Atleta, já teve o nome envolvido em escândalos rumorosos do cenário político. O advogado Bruno de Miranda Ribeiro Brito Lins ganhou projeção ao denunciar o ex-sogro, Luiz Carlos Garcia Coelho, a quem acusava de receber propina em nome do senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

 

Segundo Bruno, Renan era o destinatário final de dois esquemas. Um envolvia suposta propina paga pelo banco BMG. O caso, que veio à tona em 2007, chegou a ser investigado em desdobramentos do mensalão, mas até hoje nada foi provado contra o parlamentar.

 

Em outra denúncia feita naquele mesmo ano, Bruno disse que Renan teria recebido recursos desviados de ministérios comandados pelo PMDB. O advogado afirmou, em depoimento à Policia Civil do DF, que chegou a buscar pessoalmente algumas malas de dinheiro e contou ter visto mais de R$ 3 milhões dentro delas.

Uma dessas malas teria sido levada para a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan mantinha um relacionamento extraconjugal. Nos dois episódios, segundo Bruno, parte desse dinheiro passava pelo ex-sogro, Luiz Carlos Garcia Coelho.

 

Antes de acusar Renan, no entanto, a relação entre o advogado e o político era bem diferente. Em 1999, Bruno se casou com Flávia Frias Garcia, à época assessora do ex-presidente do Senado. O parlamentar foi um dos padrinhos de casamento, ao lado do ex-governador José Roberto Arruda (PR) e do ex-piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi. Anos depois, Bruno se divorciou de Flávia, que se casou com o deputado distrital Robério Negreiros (PSDB).

 

Do casamento ao Bolsa Atleta

Agora, Bruno é acusado pela Polícia Federal de ser o maior beneficiário do esquema que fraudou o Ministério do Esporte entre março e setembro de 2012. Ele teria embolsado ao menos R$ 520 mil.

 

Para conseguir o dinheiro, Bruno teria contado com a ajuda de Jose Hector Blanco Zorrilla, então coordenador do Bolsa Atleta. Atualmente, Zorrilla é sócio do bar candango Versão Brasileira, na 204 Sul. A suspeita dos policiais é que o dinheiro desviado por ele tenha servido para abrir o empreendimento.

 

A PF ainda não sabe qual a ligação entre Bruno e Zorrilla. Mas, no período de um ano, os dois teriam inventado 25 “atletas fantasmas”, inclusive de alto rendimento e nível olímpico. Os valores das bolsas seriam depositados em seis contas, sendo a maioria delas no nome de Bruno, da mãe dele e de uma de suas sócias em empresas que, de acordo com a Policia Federal, são de fachada.

 

O Metrópoles apurou que, para movimentar e justificar o dinheiro, o advogado teria criado empresas de consultoria, turismo, tecnologia e construção. Apenas nas contas em nome de Bruno, da família e da sócia foram depositados R$ 520,8 mil do Ministério do Esporte. Além disso, um frentista aparece como beneficiário de R$ 282,6 mil. Para a PF, o homem foi um laranja, e o valor também pode ter sido repassado ao advogado.

 

Coordenador do Bolsa Atleta

De acordo com a PF, Jose Hector Blanco Zorrilla, que teria desviado os pagamentos, foi um dos que menos recebeu valores do Bolsa Atleta em sua conta. Foram R$ 44,4 mil depositados em seu nome.

 

Edigema Garrido Zorrilla, irmã do ex-coordenador do Ministério do Esporte, também aparece na lista da polícia como “atleta fantasma”. Em sua conta foram depositados R$ 37,2 mil. Os dois são cubanos e, por isso, a operação deflagrada na última sexta (18) foi batizada de Havana.

 

Ao todo, R$ 885 mil teriam sido desviados pela quadrilha — em valores atualizados, a cifra ultrapassa R$ 1 milhão.

 

Procurado pela reportagem, o Ministério do Esporte informou que a investigação partiu de denúncia do próprio órgão. A pasta reiterou a importância do programa que “desde 2005 apoiou 23 mil atletas, com resultados expressivos como os obtidos nos Jogos do Rio 2016, quando 77% da delegação olímpica; e 90,9% da paralímpica eram integradas por beneficiários. Dezoito das 19 medalhas olímpicas no Rio de Janeiro e todas as 72 paralímpicas foram conquistadas por atletas bolsistas”.

 

Até a última atualização desta matéria, a assessoria de imprensa de Renan Calheiros não havia se posicionado sobre a relação do senador com Bruno. A defesa do ex-governador Arruda também não retornou as ligações. A reportagem não conseguiu localizar Bruno, Luiz Carlos Garcia Coelho ou representantes legais dos dois para comentar o assunto.

 

O Bolsa Atleta

O governo brasileiro mantém, desde 2005, o programa de patrocínio individual de atletas no mundo. Os beneficiários precisam ser de alto rendimento, além de obterem bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade.

 

A iniciativa garante condições mínimas para que os atletas se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas.

 

Desde 2012, com a Lei nº 12.395/11, é permitido que o candidato tenha outros patrocínios. Atletas consagrados também podem ter a bolsa e, assim, contar com mais uma fonte de recurso para suas atividades.

 

Atualmente, são seis as categorias oferecidas pelo Ministério do Esporte no programa: Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico/Paralímpico e Pódio. A partir da assinatura do termo de adesão, os contemplados recebem o equivalente a 12 parcelas do valor definido na categoria: Atleta de Base (R$ 370); Estudantil (R$ 370); Nacional (R$ 925); Internacional (R$ 1.850); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil).


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