Bill Pallot, historiador de arte francês que durante décadas foi uma figura-chave na detecção de falsificações e na validação de autenticidade de obras, está no banco dos réus sob acusação de vender antiguidades apócrifas para colecionadores e templos de estética e história, como o Palácio de Versalhes. Filho de um dono de antiquário da Borgonha, ele estudou em Lyon e lecionou na Sorbonne. Sua especialidade se concentrou especificamente em cadeiras francesas do século XVIII, um conhecimento que o tornou uma referência e consultor indispensável para museus, instituições e galerias — até que foi desmascarado.
Dúvidas sobre o trabalho de Pallot começaram a surgir anos antes de ele ser "pego", levantadas principalmente pelo seu colega e ex-aluno, Charles Hooreman, que compartilhou suas preocupações com o suspeito e com compradores e autoridades francesas.
Hooreman disse à Vanity Fair que considerava Pallot seu "herói" depois de assistir às suas aulas de História da arte na Sorbonne. Mais tarde, enveredou pela mesma profissão que seu professor, mas começou a suspeitar do mentor com base em conversas com um comprador e na quantidade de antiguidades que surgiam.
Hooreman disse que viu dois assentos dobráveis que estavam sendo anunciados como tendo pertencido à Princesa Louise Élisabeth, a filha mais velha do Rei Luís XV. Ele afirmou ter se sentido compelido a testá-los.
— Eu lambi a cadeira e voilà. Eu pude sentir o gosto da fraude — disse ele à Vanity Fair, em 2018.
Familiarizado com os métodos usados por mestres da restauração, ele reconheceu um truque usado por um marceneiro que Pallot preferia, Bruno Desnoues. Descobriu que Desnoues usara alcaçuz derretido para dar à madeira nova um aspecto antigo.
Desnoues também está sendo julgado agora. Ele admitiu seu papel no esquema. O próprio Pallot reconheceu as irregularidades, mas negou que haja tantas falsificações quanto Hooreman alegou.
Marcado por seu cabelo longo e looks de três peças, Pallot foi descrito pela revista Vanity Fair como "o maior especialista mundial em obras da França do século XVIII", enquanto a Paris Match o rotulou como "o Bernard Madoff da arte", famoso investidor que caiu em desgraça por comandar um dos maiores esquemas de pirâmide em Wall Street.
No auge de seus poderes, a experiência e as garantias de autenticidade de Pallot ajudaram a convencer especialistas franceses a designar vários itens como tesouros nacionais. Ele também usou sua fama para enganar compradores endinheirados, incluindo o príncipe Abdullah bin Khalifa al-Thani do Catar. Fazia os clientes acreditarem que estavam comprando peças genuínas da História real.
Ele atestou a autenticidade de assentos que teriam pertencido a Maria Antonieta e à amante de Luís XV, Madame du Barry. Agora, Pallot é talvez mais conhecido por usar seu conhecimento de História da arte para enganar alguns dos mais estimados especialistas e compradores de antiguidades.
Investigação e julgamento Em março, após anos de investigações pela polícia francesa, Pallot e outros cinco acusados supostamente ligados a um esquema para repassar falsificações a compradores desavisados compareceram ao primeiro dia de um julgamento criminal em Pontoise, perto de Paris. Eles foram acusados de cometer fraudes usando os móveis antigos falsificados.
Em 2016, o Ministério da Cultura francês emitiu uma declaração dizendo que a polícia estava investigando a autenticidade de peças de mobiliário avaliadas em 2,7 milhões de euros (cerca de R$ 16 milhões), incluindo duas cadeiras atribuídas a Luís XV, compradas pelo Palácio de Versalhes. Essa investigação levou à conclusão de que elas não eram autênticas e à prisão de Pallot, no mesmo ano. Em 2017, o escândalo também mudou a forma como as autoridades francesas passaram a autenticar antiguidades.
Como começou o esquema? Pallot e Desnoues ficaram curiosos se conseguiriam fazer uma boa falsificação enquanto o artesão restaurava antiguidades autênticas, de acordo com o Le Monde.
O julgamento — parte de uma reviravolta mais ampla sobre a prevalência de falsificações nos mundos da arte e das antiguidades — continua neste mês de abril.
Embora possa pegar anos de prisão, Pallot disse ao Le Parisien antes do início do processo que espera se explicar ao tribunal na esperança de encontrar circunstâncias atenuantes aplicáveis à pena.