Todos nós sempre achamos que estamos ganhando menos do que merecemos, e muitas vezes estamos mesmo. Com os rodoviários de Brasília não seria diferente e é natural que queiram ganhar mais. Mas, além de suas reivindicações serem irreais diante da crise que atinge o país e Brasília, os rodoviários de Brasília são os que ganham mais e trabalham menos, comparando com outras nove grandes cidades.
Os rodoviários de Brasília estão em primeiro lugar no ranking pelo valor da hora trabalhada: R$16,85. Em segundo lugar estão os de Curitiba (R$ 16,21), seguidos dos de São Paulo (R$ 15,66), Porto Alegre (R$ 14,87), Rio de Janeiro (R$13,94), Belo Horizonte (R$ 13,36), Manaus (R$ 13,09), Recife (R$ 12,73), Salvador (R$ 12,60) e Fortaleza (R$11,91).
Apenas os rodoviários de Brasília e de Curitiba têm jornada de seis horas por dia, ou 36 horas semanais. Os demais têm de 40 a 44 horas semanais. Mesmo assim, em valor nominal, os salários dos rodoviários de Brasília (R$ 2.426,80) só estão abaixo dos de São Paulo (42 horas, R$ 2.631,30) e de Porto Alegre (43 horas, R$ 2.557,87).
E ninguém tem dúvida de que dirigir em qualquer uma dessas cidades é muito mais estressante e complicado do que conduzir em Brasília.
Rodoviários ganham, população perde
Os rodoviários de Brasília têm todo o direito de fazerem greve para conseguir aumentos salariais e melhores condições de trabalho. A greve, porém, tem de ser deliberada em assembleia, comunicada previamente e os trabalhadores têm de manter parte da frota em funcionamento. Não foi o que ocorreu ontem, quando os rodoviários pararam de trabalhar sem avisar e deixaram cerca de 650 mil pessoas sem transporte público.
Os rodoviários já tiveram reposição salarial de 4%, mas querem um aumento real de 10% nos salários e em benefícios. Na verdade, um aumento irreal, tendo em vista a crise que afeta o país e Brasília — nenhuma categoria profissional está tendo aumentos reais nesse montante.
Além disso, um aumento excessivo para os rodoviários significará ou um reajuste das passagens — e o usuário vai pagar a conta — ou dos subsídios que o governo paga às empresas para compensar a diferença entre os custos operacionais e o arrecadado. Dos dois jeitos, a população perde, pagando mais pelas passagens ou tendo menos recursos para prioridades.
Mas essa é a parte formal da história.