Todos estão cansados de conhecer a Teoria das Janelas Quebradas, mas é bom relembrar. Em Chicago, EUA, os psicólogos James Wilson e George Kelling fizeram um experimento estacionando dois automóveis idênticos em bairros distintos: um na periferia e outro em local nobre. O primeiro foi imediatamente destruído e saqueado, enquanto o segundo permaneceu intacto. Algum tempo depois, o veículo intacto também foi destruído.
Rudolph Giuliani, que governou Nova York de 1994 a 2002, utilizou o fundamento de que a desordem gera desordem, independente de onde ocorre, e implantou o programa de segurança nova-iorquino batizado de Tolerância Zero. Elogiado por lá, essa linha de pensamento é muito criticada por aqui. Mas não há dúvidas sobre o fato de que se uma janela quebrada não for reparada em um prédio, imediatamente as outras vão receber pedras até que nenhuma esteja inteira.
Os movimentos derradeiros do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicam que ele está inspirado na mesma teoria. O seu prédio de vários andares que vão do PSB ao PMDB, tem janelas onde estão Michel Temer, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro, Álvaro Dias, todos na cobertura. Mas ele quer quebrar as janelas dos andares inferiores que tem frequentado, onde vivem Deltan Dallagnol e Sergio Moro. Um pavimento acima estão os moradores do TRF4, que no dia 24 deste mês vão confirmar a sentença de Curitiba e mandar prendê-lo, segundo especialistas nessa espécie de condomínio.
E aí vem a Teoria das Janelas Quebradas, de acordo com informações, como uma espécie de protesto desesperado de quem abriu a porta para a vistoria em todas as dependências do edifício chamado Brasil. Os fiscais só encontraram lixo nos cantos. Diante do inegável envolvimento na sujeira do patrimônio, só resta denunciar todos os outros que ajudaram a transformar cada cômodo em um aterro sanitário cheio de urubus.
Agora é preciso quebrar as janelas dos vizinhos e convocar a militância que sobrou para jogar pedras no prédio todo e contagiar os mais contidos. Quem não tem vontade de jogar pedras em uma janela se a vizinha está quebrada? O problema é que muitos apreciam ambientes organizados, são obedientes civis disciplinados, acreditam na ordem pública.
Imaginar que se a prisão de Lula for efetivada haverá um colapso e consequente baderna no País, é uma avaliação equivocada maior do que a que fez o motorista da Venezuela Nicolás Maduro, irmão de fé de Lula e de Dilma, ao transformar um dos melhores países da América do Sul em uma sucata.
Sua convicção (a de Lula) está em pesquisas em que ele ignora que os índices de indecisos, brancos e nulos, ultrapassam 62%. Existe um teto para esse perfil de candidato de extremos no Brasil. Lula chegou ao teto que não é suficiente para elegê-lo presidente. Seus parceiros já presos sabem disso e o argumento de suposta liderança em pesquisas só servem para acionar a Teoria das Janelas Quebradas.
O super Ricardo Lewandowski, ministro do megassupremo Supremo Tribunal Federal, brother de Gilmar Mendes, deixou Dilma Rousseff como subsíndica licenciada, apta a concorrer ao controle do condomínio. A ex-presidenta (sic) vai até fazer vigília na porta do TRF-4 acompanhada de mais meia dúzia, dizem. De lá ela aperta o botão que é a senha das Janelas Quebradas.
No meio do caos imaginado e com a prisão de seu mentor, ela então surge na ribalta como legítima representante da vingança que os bolsistas-familiares desejam para estabelecer a verdade do golpe que sofreu. Puro delírio de quem acredita em um plano como esse e fica alimentando as redes sociais com fakenews.
O fato a ser considerado é simples: se Lula cometeu ilícitos, então a Justiça julga e condena, como qualquer outro e fim de papo. Assim deve ser feito com todos os habitantes do condomínio. E a vida continua, recolhem o lixo, fazem uma reforma com a taxa extra inevitável, trocam o síndico e as janelas quebradas e estabelecem o Tolerância Zero político.
Aqui, sim, a teoria de Chicago é muito bem vinda. Que se cuidem os poderes da República. Se Lula for preso, a sua delação premiada poderá comprometer toda a fachada do prédio. E se Dilma for ouvida por ele, então o problema será menor. Dilma não confessa. É o que dizem.