11/02/2018 às 03h54min - Atualizada em 11/02/2018 às 03h54min

Leva migratória venezuelana deixa Colômbia e Brasil em alerta

Perante um interminável fluxo migratório, Brasília e Bogotá reforçam segurança e tentam integrar venezuelanos

Diário de Notícias

Deixam para trás um país em espiral negativa, no qual confluem desemprego, inflação, criminalidade galopante e a falência de funções básicas do Estado. Na Colômbia, 550 mil, no Brasil, 70 mil. Estes são os números oficiais dos venezuelanos que cruzaram as fronteiras para os países vizinhos nos últimos meses. Mas há pelo menos outros tantos, sem documentos, afiança El Espectador. E como o fluxo continua, as autoridades colombianas e brasileiras anunciaram medidas para o controle das fronteiras.

O ministro da Defesa brasileiro Raul Jungmann disse que vai ser duplicado o número de soldados na fronteira, para 200, no estado de Roraima. Na capital, Boa Vista, há mais de 40 mil venezuelanos numa cidade que conta 330 mil habitantes. Já o ministro da Justiça, Torquato Jardim, quer integrar a mão-de-obra qualificada num projeto-piloto.

"A situação descontrolou-se", reconheceu o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em visita a Cúcuta. Esta cidade fronteiriça vai receber um centro de acolhimento de migrantes. O chefe de Estado anunciou que os venezuelanos terão dois meses para requerer um novo documento que lhes dá acesso aos serviços estatais colombianos. Na ocasião revelou também que a fronteira vai ser reforçado com 2.120 políciais e soldados e que os controles vão ser mais rígidos. "Não vamos permitir que venham para o nosso país cometer crimes", advertiu.

A braços com uma situação inédita, os colombianos pediram ajuda ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Foi também criado um organismo, o Grupo Especial Migratório, para articular as estratégias de segurança e ordem pública.

Por fim, Juan Manuel Santos endereçou uma mensagem em público ao homólogo venezuelano, Nicolás Maduro: "Estes são os resultados das suas políticas, é o resultado de se ter negado a receber ajuda. Peço-lhe que nos permita ajudar para que o seu povo deixe de ter fome."

No passado a migração deu-se em sentido contrário: desde 1950 entre 2,5 e 5 milhões de colombianos procuraram melhores condições de vida na Venezuela. Daí que cerca de 60% das pessoas que voltaram costas a Caracas tenham ligações familiares na Colômbia.

FARC suspende campanha

A Força Alternativa Comum Revolucionária, partido que nasceu das cinzas do movimento de guerrilha FARC, anunciou na sexta-feira a suspensão da campanha eleitoral para as eleições legislativas e presidenciais colombianas, tendo alegado a ausência de garantias de segurança. A decisão foi tomada após "sabotagem" e tentativas de agressão visando o presidente Rodrigo Londoño (também conhecido como Timochenko) e o ex-comandante da guerrilha Iván Márquez.

A decisão foi anunciada pela candidata à vice-presidência do país, Imelda Daza. O partido esclareceu mais tarde que a decisão é temporária e que as atividades de campanha devem ser retomadas após um encontro entre dirigentes e autoridades policiais.

Para a FARC, o sucedido em vários pontos do país "demonstra a existência de um plano coordenado, dirigido para impedir a participação política de um partido legalmente constituído". Queixam-se de "manifestações violentas" nos locais de campanha - os candidatos são recebidos à pedrada. Mas também de ações de intimidação, como por exemplo as casas dos militantes estarem sendo fotografadas e as redes sociais sendo usadas para se incitar à violência. "Não estamos contra os protestos. A política é assim, feita de acordos e desacordos, mas o que estamos a viver está no limite do criminoso", queixam-se, em comunicado. E vão queixar-se também à procuradoria, prometem. Apontam o dedo ao partido Centro Democrático, e especificamente ao senador Gustavo Muñoz.

O partido do ex-presidente Álvaro Uribe fez campanha pelo não ao acordo de paz no referendo de 2016 - e venceu.

A FARC apresenta-se pela primeira vez às eleições, após meio século de luta armada. As eleições parlamentares estão agendadas para 11 de março e as presidenciais para 27 de maio. Timochenko, segundo as sondagens, encontra-se no último lugar das preferências dos eleitores, com 1% de intenções de voto.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, cujo mandato expira em agosto, apelou aos compatriotas para rejeitarem as agressões aos candidatos da FARC.


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