A Corregedoria da Polícia Civil do Estado de Goiás vai investigar a conduta de policiais civis que atenderam uma jovem estuprada por cinco homens, no último domingo, 8, na Central de Flagrantes da cidade de Valparaíso de Goiás, no entorno do Distrito Federal. O crime aconteceu na cidade goiana de Novo Gama. A vítima, de 20 anos, havia deixado a casa da madrasta, por volta das 19 horas, na região do Pedregal, e seguia em direção à Santa Maria, no Distrito Federal, onde mora.
Vítima afirmou que os policiais civis pediram a ela que detalhasse o estupro Foto: Reuters
Segundo relato da jovem, ela foi rendida por dois homens em um ponto de ônibus. Eles roubaram seu celular e fugiram. Pouco depois, a mesma dupla voltou com outros três homens. Sob a mira de um revólver, ela foi obrigada a entrar no carro deles, onde viveu momentos de terror durante aproximadamente uma hora e meia. Após ser violentada, a vítima foi deixada pelos bandidos em um matagal.
A jovem e seus familiares alegam que houve despreparo por parte dos policiais que registraram a ocorrência. Em entrevista, a família disse que só havia homens durante o plantão e que os agentes fizeram perguntas constrangedoras, pedindo que a jovem, em total desespero, detalhasse o estupro. Também questionaram a garota se ela estava “bêbada” e se era usuária de drogas.
Outra queixa é de que os policiais, sob ordens do delegado plantonista Cassius Zamó, recusaram-se a encaminhar a vítima ao Instituto Médico Legal (IML) de Luziânia, para fazer o exame de corpo de delito. Como já era madrugada e a família não tem carro, a menina foi levada apenas ao Hospital Regional do Gama (HRG), onde recebeu profilaxia contra doenças sexualmente transmissíveis. Com isso, possíveis provas que poderiam ajudar na identificação dos criminosos se perderam, segundo relatou o pai da garota na entrevista ao telejornal.
“Ela falava: ‘Ó, eu tenho um cabelo. Um cabelo da pessoa’. O policial falava que não era prova”, relatou o pai da vítima.
Versões conflitantes – A Polícia Civil de Goiás refuta as alegações, afirmando que há discrepâncias no relato da garota. Ao Estado, o delegado plantonista Cassius Zamó disse que todo o depoimento da vítima foi conduzida por ele e acompanhada pela agente policial escalada para o dia, informação que pode ser confirmada no relatório do plantão policial.
“Conduzimo-na para uma sala privada para prestarmos o devido atendimento, mas ela se recusou a responder perguntas que são importantes para a investigação. Estou absolutamente tranquilo. Não cometi nenhum desvio de conduta”, afirmou o delegado.
Sobre a ida ao IML, Zamó disse que a vítima estava acompanhada de uma pessoa que teria se prontificado a levá-la ao instituto.
Já em relação a supostos vestígios dos autores dos crimes, como fios de cabelo e pedaços de pele, que teriam sido ignorados, o delegado declarou que a vítima só teria comentado sobre eles após toda conversa na delegacia, quando deixava o local, comprometendo a credibilidade de tais provas.
Quanto às supostas perguntas constrangedoras, a Polícia Civil alegou que entende que seja doloroso, mas que faz parte do procedimento e que não há outra forma de se obter as informações que serão necessárias à investigação se não indagando à própria vítima.
Ainda segundo a assessoria de imprensa da corporação, o inquérito foi instaurado na delegacia de Novo Gama, para onde o caso foi encaminhado, mas que detalhes da investigação serão mantidos sob sigilo para preservar a intimidade da vítima, uma vez que o crime é de natureza sexual.