03/06/2018 às 07h37min - Atualizada em 03/06/2018 às 07h37min

Isenções. Projetos de lei aprovados pelos deputados distritais na mira do MP do DF

Isenções na mira do MPDFT

correioweb

Projetos de lei aprovados pelos deputados distritais beneficiam diversas categorias e setores com benefícios que diminuem a arrecadação do Estado. Iniciativas sem previsão de impacto nos cofres públicos serão questionadas na Justiça.

W3 Sul: projeto de Liliane Roriz prevê 70% de desconto no IPTU para quem modernizar fachadas na região

Na contramão da crise financeira na capital e da política de austeridade adotada pelo governo durante os últimos três anos, os distritais desta legislatura apresentaram pelo menos 34 projetos de lei que podem reduzir a arrecadação por meio de programas de renúncia fiscal — desses, seis viraram leis, até então. São proposições que beneficiam categorias profissionais, igrejas, empresários e entidades em detrimento do fluxo de caixa dos cofres públicos. De olho nas medidas apresentadas sem a previsão do impacto aos caixas ou sugestões sobre como recuperar os recursos perdidos com a concessão de benefícios, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) começa a buscar na Justiça punições aos responsáveis após a sanção das legislações.

Na última semana, a Promotoria de Justiça de Ordem Tributária ajuizou ação de improbidade administrativa contra Rafael Prudente (MDB). O distrital teria “negligenciado a conservação do patrimônio público” ao emitir parecer favorável ao Programa Pró-50 anos, que prevê isenções para empresas com ao menos 20% do quadro de funcionários ocupado por pessoas de idade igual ou superior a 50 anos. Processo semelhante foi movido, em 2016, contra Agaciel Maia (PR), Israel Batista (PV) e o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) pela aprovação do Refis sem indicação de medidas que garantissem o retorno aos cofres públicos dos R$ 480 milhões em dívidas perdoadas. Eles negam irregularidades e não são réus.

Entre os autores de projetos de lei que reduzem a arrecadação do GDF, há parlamentares de oposição e integrantes da base aliada. Uma das propostas mais recentes é de autoria da pré-candidata a deputada federal Celina Leão (PP). A proposição garante a Oficiais de Justiça Avaliadores Federais que executem mandados em Brasília redução a 0,5% da alíquota do IPVA e do ICMS incidente na compra de automóveis, além da isenção do pagamento anual da Taxa de Licenciamento do Veículo.

O salário desses servidores atinge, em média, R$ 11 mil, fora benefícios. Na justificativa do projeto, entretanto, a parlamentar lembra que os funcionários exercem grande parte das atividades externamente e alega que a indenização de transporte paga pelo Estado não cobre todos os gastos. Sem falar em números, Celina aponta a compensação com o aumento da arrecadação graças à melhoria dos serviços de execução e penhoras fiscais.

Proposta similar foi apresentada pelo deputado Wasny de Roure (PT). Ele sugere a isenção de ICMS na compra de carros por corretores de imóveis. “Não pretendem os corretores ter privilégios, mas regime da franca concorrência entre os indivíduos ciosos de seus direitos e deveres, que possam concorrer pela formação moral e intelectual e para o desenvolvimento dos negócios e elevação da classe no conceito público”, disse.

Um dos últimos projetos relativos às remissões a se tornar lei é de autoria do vice-presidente da Câmara Legislativa, Wellington Luiz (MDB). A matéria determina abatimento de até 30% do IPTU para contribuintes que adotarem medidas de preservação e recuperação do meio ambiente. A causa é nobre e ganhou elogios do setor produtivo — um dos mais impactados pela alta carga tributária. Mas o projeto do emedebista não estima o impacto na arrecadação.

O desconto do imposto vale para quem plantar árvores, implantar quintais, usar sistemas de reúso de água, de aquecimento solar ou de energia eólica. Até quem fizer a separação do lixo ganha abatimento no boleto de IPTU. O projeto era de 2012, mas só foi aprovado em 2015 e, logo depois, vetado por Rollemberg. Porém, a Câmara Legislativa derrubou o veto. O GDF não questionou judicialmente.

Pioneiros e igrejas Entre as proposições com impacto na arrecadação do IPVA, está uma de autoria do deputado Júlio César (PRB), que dá desconto de até 30% no imposto a quem usar a bicicleta em mais de 40% dos dias úteis do ano para fazer o trajeto de casa ao trabalho. A proposição não detalha como seria feita a fiscalização dos ciclistas, nem estima a perda de receita para o GDF. “O IPVA é cobrado pela utilização do sistema viário e, se o carro estiver fora de circulação, não há por que cobrá-lo”, apontou o distrital, na justificativa da matéria. Robério Negreiros (PSD) quer isentar do imposto, até 31 de dezembro de 2019, deficientes visuais. Ele também pretende dar fim à cobrança de ITBI para quem chegou ao DF antes de 1970.

Ainda estão pendentes de análise projetos de lei dos deputados Júlio César (PRB) e Bispo Renato (PR), que isentam de ICMS as contas de serviços públicos distritais de água, luz e telefone de igrejas e templos. “O objetivo é a potencialização da garantia dos direitos à crença religiosa e ao livre exercício dos cultos”, argumentou Bispo Renato, ao propor a iniciativa.

Uma das campeãs de propostas que reduzem a arrecadação do GDF é a deputada Liliane Roriz (PTB). Ela sugeriu a redução da base de cálculo do ICMS para medicamentos genéricos e para produtos da cesta básica — essa última virou lei no fim de 2016. A distrital ainda apresentou projeto para isentar de IPVA ônibus e outros veículos destinados ao transporte escolar coletivo, proposta também sancionada. Ela também é autora de proposição que isenta do pagamento de ITCD o patrimônio que não ultrapasse R$ 180 mil.

Outra iniciativa de Liliane é o projeto que concede desconto de até 70% do IPTU para imóveis nas avenidas W2 e W3 Sul e Norte cujos donos reformarem fachadas e marquises. “O objetivo é estimular a modernização das avenidas”, argumentou a distrital.

Orçamento

O Palácio do Buriti sancionou a Lei Orçamentária Anual de 2018 (LOA) com previsão de receita de R$ 40,6 bilhões — os recursos do Tesouro totalizam R$ 26,9 bilhões e os do Fundo Constitucional, R$ 13,7 bilhões. Desse montante, a estimativa é que R$ 16,6 bilhões sejam de origem tributária. Na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019 (LDO), o GDF apontou previsão de R$ 39,8 bilhões, dos quais R$ 17,7 bilhões são provenientes de tributos.

Arrecadação

Receita líquida prevista com tributos entre abril e dezembro de 2018

ICMS: R$ 6 bilhões IPTU: R$ 760,3 milhões TLP: R$ 140,8 milhões IPVA: R$ 459,3 milhões ISS: R$ 1,2 bilhão ITBI: R$ 307,5 milhões ITCD: R$ 80,3 milhões Multas e juros de tributos: R$ 80,3 milhões


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »