Um laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal não deixa dúvidas. A arma utilizada por delegados e agentes – uma pistola Taurus .40 – pode virar um tiro no pé ou no coração, literalmente, e matar o seu usuário.
A denúncia é do Sindicato dos Policiais Civis, que teve acesso a uma farta documentação. Os peritos denunciam que um novo lote das pistolas apresentam falhas e podem disparar acidentalmente.
O armamento é amplamente utilizado pelos policiais civis. Segundo o Sinpol-DF, os ricos de acidentes não só são iminentes, como constantes.
Notibras teve acesso a um relatório emitido em outubro de 2016 pelos criminalistas. Os riscos mais constantes são com o modelo PT 24/7 calibre ponto 40. Ao fim dos testes, foram apontados inúmeros defeitos.
Os primeiros quatro testes ensaiaram a queda da arma em um piso de concreto. Em três deles a arma disparou. No teste seguinte, a espoleta da pistola ficou marcada – o que sugere, neste último caso, também um risco de disparo.
Em março do mesmo ano, outro laudo, também do Instituto de Criminalística, já apontava defeito nas armas Taurus adquiridas pela Instituição. O documento mostra que em um teste por amostragem utilizando 25 pistolas .40, dez apresentaram falhas de segurança e dispararam ao cair no chão.
As perícias corroboram a tese de que as pistolas Taurus do modelo PT 24/7 calibre .40 apresentam um grave defeito de projeto e podem disparar acidentalmente. A arma é amplamente utilizada não apenas por policiais de Brasília, como de resto em outras forças policiais do País.
Há relatos de todas as partes do Brasil sobre acidentes – alguns fatais – ocasionados por disparos acidentais de armas da Taurus. Essa empresa detém o monopólio do setor.
Um dos diretores do Sinpol, o agente de polícia Luciano Vieira, foi vítima da própria arma. Ele estava no apartamento onde mora quando a pistola caiu no chão. A queda acionou a arma, que o atingiu na região do tórax. A bala ficou alojada no ombro de Luciano, que se submeteu a uma delicada cirurgia para retirada do projétil..
O Sinpol garante que tem denunciado o problema o caso ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios em maio do ano passado. Em junho, o órgão instaurou um inquérito civil para apurar os fatos por meio do Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCAP).
Em outubro, uma ação civil pública também do Ministério Público recomendou que a Polícia Civil substituísse o armamento, mas, até o momento, o Sinpol não tomou conhecimento sobre os fins que tiveram a recomendação do Ministério Público.
“Os policiais civis estão temendo trabalhar com essa arma. Muitos gostariam de substituí-la, mas a Polícia Civil não possui outro tipo de armamento. Agentes e delegados já trabalham com a ideia de fazer uma entrega coletiva dessas armas”, revelou o presidente do Sinpol, Rodrigo Gaúcho Franco.
O problema das armas Taurus em âmbito nacional deve ser investigado também na Câmara Federal: recentemente, um grupo de vítimas conseguiu quase 200 assinaturas para a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que ainda não foi instalada.