Usuários de drogas que perambulam pelas cercanias da Rodoviária do Plano Piloto têm amedrontado passageiros, motoristas, cobradores e comerciantes do maior e mais movimentado terminal da capital do país. Quando a madrugada chega, o local, por onde passam cerca de 700 mil pessoas diariamente, fica ainda mais inóspito e, além dos furtos e roubos, até casos de violência sexual são registrados. Embora os crimes aconteçam em todos os ambientes da rodoviária, um atemoriza mais: o banheiro da plataforma E.
Dentro das cabines ocorreram pelo menos três estupros seguidos de roubo nos últimos seis meses. O toalete é o mesmo onde o estudante da Universidade de Brasília (UnB) Milton Junio Rodrigues de Souza, 19 anos, foi morto esfaqueado, na madrugada do último dia 15.
Quatro dias antes de o aluno ser assassinado, um rapaz de 22 anos foi estuprado e assaltado. Na madrugada de 11 de janeiro deste ano, a vítima deixou um shopping na região central de Brasília e se dirigiu para a rodoviária, onde pegaria metrô a fim de voltar para casa. Antes, ele entrou no banheiro para trocar de roupa. Quando estava dentro de uma das cabines, a porta foi arrombada por dois homens.
m dos suspeitos acusou o jovem de estar se masturbando. “Você fica aí se masturbando, agora você vai ver”, disse o agressor. Em seguida, segundo relatos da vítima aos policiais, um dos criminosos o segurou, enquanto o outro o violentou. A todo instante, os bandidos simulavam estar armados. O rapaz, franzino, chegou a gritar por socorro, mas não foi atendido.
“Banheiro do estupro”
Ainda de acordo com o rapaz, outros dois homens estavam no ambiente quando o crime ocorreu, mas pareciam não se importar com o que estava acontecendo. Durante a violação, um aparelho celular da vítima caiu no chão. Ele foi recolhido por um dos criminosos. Na sequência, a dupla fugiu. O local, que ficou conhecido como “banheiro do estupro”, é evitado por quem conhece a rotina de violência da Rodoviária do Plano Piloto.
A fama de crimes praticados no toalete motivou um homem que passava pela rodoviária a alertar o jovem violentado a não tentar nenhuma reação. “Fui aconselhado por pessoas que estavam na parte externa do banheiro a não ir atrás dos bandidos, pois eles estavam armados”, relatou a vítima na ocorrência registrada pela Polícia Civil (PCDF).
Após meia-noite, os grupos de usuários que passam dia e noite fumando crack ficam à espreita, esperando as vítimas entrarem no banheiro. “Quando a madrugada chega, se torna muito perigoso, não só dentro do banheiro como em toda a área da rodoviária”, disse um dos cerca de 60 funcionários da limpeza que trabalham em escala das 19h da noite às 7h do dia seguinte.
Facas no telhado
Depois que o estudante da UnB foi assassinado, o banheiro palco do crime passou a contar com a presença de dois vigias durante a madrugada. A reportagem do Metrópoles esteve no local na noite de quinta-feira (24/1) e acompanhou a movimentação na rodoviária e nos banheiros próximos aos terminais. Já por volta das 2h da manhã, apenas os grupos de serventes trabalhavam, limpando a área.
Em um dos mutirões, os funcionários localizaram cerca de 70 facas escondidas nos forros do telhado que cobre a rodoviária. “Trabalhamos com medo todas as noites. Presenciamos roubos, tráfico de drogas, brigas e até mortes. Durante as madrugadas é difícil ver policiais circulando pelo local”, comentou outra funcionária que trabalha na limpeza dos terminais.
De acordo com um dos funcionários que estavam no local quando Milton Junio foi morto, os policiais militares que ficam no posto policial da rodoviária demoraram a chegar ao local do crime. “Eles estavam dentro da sala e foram chamados, mas o Corpo de Bombeiros, que fica em um local bem mais distante, chegou primeiro”, disse.
O outro lado
Procurada pelo Metrópoles para falar sobre o policiamento na região da Rodoviária do Plano Piloto, a Polícia Militar ressaltou que o patrulhamento é feito de forma ininterrupta. “Em nenhum período o local permanece sem policiamento, tendo, inclusive, um posto policial no local. Não há como a segurança pública ser garantida apenas com policiamento”, destacou a nota enviada pela corporação.
Ainda segundo a PM, diversos fatores interferem diretamente na criminalidade, como educação, questões sociais, distribuição de renda e, principalmente, legislação. “Não informamos quantidade de policiais e de viaturas que atuam no local por questões de segurança”, finaliza a nota.
Já a Secretaria de Segurança Pública explicou ter havido uma redução de 8,8% nos seis principais tipos de crimes contra o patrimônio registrados na Zona Central de Brasília, no comparativo dos dois últimos anos. A região compreende Rodoviária do Plano Piloto, Torre de TV, os setores de Diversões Sul e Norte e os setores hoteleiros Sul e Norte.