“Silêncio ensurdecedor até agora da maioria esmagadora da imprensa sobre a reportagem da Crusoé”, escreveu, na última sexta-feira (12/04/19), o publisher da revista digital em sua conta no Twitter. Mario Sabino referia-se, àquela altura, à baixa adesão sobre a bombástica reportagem “O amigo do amigo de meu pai”, que, desde quinta (11/04/19), navegava pelas redes digitais. Quem quebrou esse silêncio foi justamente o alvo do escrutínio da revista: Dias Toffoli, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao pedir cobertura ao colega Alexandre de Moraes, Dias Toffoli deu, ele próprio, o peteleco na primeira peça de dominó, que provocou aquele efeito imparável de quando a imprensa se junta para denunciar um abuso.
Quatro dias depois de Sabino se queixar com razão da indiferença da grande mídia para o furo da Crusoé, a história sobre o “Amigo do amigo de meu pai” (em que os protagonistas são, nesta ordem, Toffoli, Lula e Emílio Odebrecht) estava estampada agora em todos os meios televisivos, radiofônicos, internéticos e impressos.
Quem, por acaso, não havia sido impactado pela notícia, agora, sabe de cor o título da reportagem, que terá para sempre como linha adjacente a marca da censura. A imperícia dos ministros, que poderia embasar uma tese de doutorado sobre as origens da expressão “O tiro que saiu pela culatra”, tem efeitos periféricos, além de espalhar a notícia até as tribos indígenas onde só alcançam sinais de fumaça.
O movimento abre frentes importantes de reflexão: por que Toffoli demonstra tamanho desespero em esconder a até há pouco esclarecedora citação a seu nome em um e-mail escrito por Marcelo Odebrecht? O que seria mais importante para juiz da corte máxima de uma nação do que defender preceitos constitucionais, como é o da liberdade de imprensa? Que instituição é esta em que parte de seus integrantes é capaz de atropelar, descaradamente, o bom senso em nome do protecionismo corporativista?
Quando Alexandre de Moraes e Dias Toffoli se uniram para abafar o caso, a sociedade reagiu com energia. Das organizações que protegem o exercício da imprensa até a ordem que acolhe os advogados (da qual os dois ministros são egressos), todos usaram o livre direito ao manifesto para censurar a censura imposta pelos dois magistrados.
No dia em que Sabino vociferou nas redes, a pergunta constrangia quem toma as decisões em alguns dos grandes jornais do país. Por que ignorar tão importante informação trazida pela revista digital? Com o golaço contra de Toffoli, a lógica se inverteu. Como não investigar o que pode estar por trás dessa história?
Nem todos ignoraram o tsunami que estava por vir. Em artigo publicado pelo site de Veja, Augusto Nunes disse que Toffoli descumpria os dois pré-requisitos para ocupar o cargo de ministro do Supremo: ser provido de notável saber jurídico e ter reputação ilibada. Injusto. Dias Toffoli mostrou-se genial quando joga no time do adversário.
E que Deus me proteja.