25/04/2019 às 18h05min - Atualizada em 25/04/2019 às 18h05min

“Olhos iguais aos meus”, diz mãe ao ver filho pela 1ª vez após 38 anos

A mulher teve o bebê tirado de seus braços ao sair do hospital, em 1981. A conversa por videoconferência ocorreu nesta quinta-feira

Após 38 anos de procura, Sueli Silva, de 56 anos (foto em destaque), finalmente conseguiu ver e trocar as primeiras palavras com o filho Ricardo Santos Araújo. Ele foi tirado dos braços da mãe no momento em que saía da maternidade do Hospital Regional do Gama (HRG), em 1981. Logo após saberem do resultado do exame de DNA, na quarta-feira (24/04/2019), os dois participaram de uma videoconferência. Sueli contou ao Metrópolescomo foi a conversa, que durou cerca de duas horas.

“A gente ficou se olhando por alguns segundos. Ele disse que não sabia o que falar. Pedi para ele chegar mais perto da tela. Disse que os olhos parecem com os meus, que as orelhas parecem com as minhas e que era lindo como eu. Começou a sorrir e foi um momento de descontração. De repente, ele começou a contar da vida dele. Falava sem parar”, revelou, emocionada.

'Falei  para ele: ‘Quero ouvir todas as histórias. Os erros e os acertos’. Foi muito bonito"
Sueli Silva

O reencontro foi possível graças à investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que durou cerca de seis anos. Agora, a expectativa é de que os dois se encontrem pessoalmente na próxima semana. Quando Ricardo chegar em Brasília.
 

A reportagem também entrou em contato com Ricardo, mas ele disse que não deseja falar sobre o assunto neste momento.

História
Conforme o Metrópoles revelou nesta quinta-feira, essa história começou em 1972. Então com 9 anos, órfã de mãe e abandonada pelo pai, Sueli e os quatro irmãos (três meninas e um garoto) foram levados pelo avô a um orfanato em Corumbá de Goiás (GO), cidade a 125 quilômetros de Brasília.

Em razão de os envolvidos na história já terem morrido ou estarem em idade muito avançada, sem condições de se defenderem, o Metrópolesoptou por identificar apenas mãe e filho, além do delegado que investigou o caso.
 

Sueli conta que aos 13 anos teria sido estuprada pelo filho da administradora da instituição. A violência sexual ocorreu outras vezes. Ela tentou se matar, ingerindo veneno para formiga. Pediu ajuda à mulher, que ignorou os abusos sofridos pela adolescente. Acabou grávida e enviada a Brasília para morar com um casal conhecido da dona do orfanato. Ficou no local até o nascimento da filha Juliana, registrada apenas com o nome da mãe.

As duas permaneceram na capital. Sem ter a quem recorrer, Sueli disse que continuou a trabalhar para a dona do orfanato, que também seria proprietária de uma escola infantil no Guará. Mãe e filha continuaram a morar com o mesmo casal.

Em maio de 1980, Sueli conheceu um policial militar com que manteve um breve relacionamento. Na época, o homem estava de partida para o Canadá e não teria ficado sabendo que a namorada havia engravidado. “Foi tudo muito rápido. Tivemos um relacionamento de cerca de três meses. Não sabia mais como encontrá-lo, mas tinha certeza que queria ter e cuidar do meu filho”, disse Sueli.

De acordo com ela, a dona do orfanato não teria acreditado na história. Achava que a criança seria fruto de uma nova investida do filho dela. Por isso, teria ordenado ao casal que mantivesse Sueli trancada em casa até que o bebê nascesse. Em 9 de fevereiro de 1981, Luís Miguel veio ao mundo, no Hospital Regional do Gama.
 

 

Filho levado
Quando saiu da maternidade, conforme conta, teria sido recebida pelo casal com o qual morava e uma mulher que tinha um lenço amarrado na cabeça. Pediram que ela fosse ao orelhão e ligasse para a dona do orfanato. A conversa não foi nada amistosa: “Ela disse que eu devia entregar meu filho para adoção, já que não tinha condições de criá-lo. Caso contrário, ia mandar os meus irmãos para um abrigo de menores infratores”.

“Implorei, supliquei, mas ela não me deixava falar, bateu o telefone e, quando voltei em direção ao carro, em prantos, meu filho já não estava lá. A mulher que usava lenço no cabelo também desapareceu”, lembrou.

Fragilizada, ela permaneceu trabalhando e morando no mesmo local, ainda sob influência da dona do orfanato, por mais de 20 anos. Nesse período, Sueli se casou, teve outro filho, perdeu a filha mais velha após um choque anafilático e só conseguiu independência financeira em 2004, quando foi aprovada em um concurso público no Governo do Distrito Federal.


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