De acordo com o depoimento prestado ao MPF, Neto conta que Leal se apresentava como arrecadador de recursos de Rollemberg para a corrida eleitoral, e o valor cobrado também garantiria a permanência de seu filho, Henrique Leite Rodrigues, na diretoria da BRB Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (BRB/DTVM). Ainda segundo Neto, a negociata ocorreu quando Rollemberg liderava as pesquisas de intenção de voto.
As declarações de Neto convergem com as do filho, que também firmou acordo de delação. No depoimento colhido pelos procuradores Frederico Siqueira Ferreira e Felipe Torres Vasconcelos, Henrique Leite afirma que, para a sua permanência no cargo o qual passou a ocupar em 2013 – ainda na gestão de Agnelo Queiroz (PT) –, ele e o pai teriam de desembolsar R$ 200 mil e repassar esse valor a Ricardo Leal. Após a eleição de Rollemberg, Leal se tornou conselheiro do BRB.
“Durante a eleição, o colaborador e seu pai combinaram com Ricardo Leal o pagamento de R$ 200 mil para a manutenção do cargo do colaborador, que essa conversa ocorreu no escritório de Ricardo Leal no Palácio do Rádio II”, consta na delação. Ainda segundo o documento, o ex-gestor soube “que o pagamento aconteceu, tanto que permaneceu no cargo”.
REPRODUÇÃO / MPF
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Henrique Domingues Neto conta aos procuradores da força-tarefa do MPF que as relações com o arrecadador de campanha de Rollemberg vinham de tempos anteriores. “Ricardo Leal é meu conhecido de longa data, entretanto, houve uma reaproximação na época em que meu filho Henrique era diretor da BRB DTVM e Ricardo comandava a estrutura do BRB extraoficialmente”, disse.
“Destaco que, após a eleição de Rollemberg, Ricardo Leal indicou todos os diretores do BRB, sendo certo que, depois de empossados, se reportavam diretamente a Leal”, declarou Henrique Neto. Segundo ele, “Ricardo Leal, por ser ligado ao governador Rollemberg, pediu um auxílio de campanha. O pagamento era para permanência de Henrique Leite no novo governo, não havendo como confirmar que os valores fossem para o governador”, destacou.
Na prestação de contas das eleições de 2014 para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contudo, o nome de Ricardo Leal não aparece como doador da campanha de Rodrigo Rollemberg. A reportagem também não encontrou qualquer tipo de doação declarada por Henrique Leite ou Henrique Neto.
A partir da permanência de Leite na direção de um dos braços do BRB, vários negócios foram fechados com o objetivo, segundo os delatores, de resultar em vantagens indevidas aos personagens envolvidos.
Segundo a denúncia do MPF, houve pagamento de propinas para investimentos em, pelo menos, dois empreendimentos: o FIP LSH (relacionando ao antigo Trump Hotel, na Barra da Tijuca) e o FII SIA (relacionado ao empreendimento Praça Capital, desenvolvido pela Odebrecht Realizações e pela Brasal Incorporações).
A apuração indica que Henrique Neto fazia o elo entre as empresas e o grupo BRB. Ele teria cobrado e recebido, em caixa 2 ou ocultamente, valores milionários de cada investimento de ações do SIA e LSH feito nos respectivos fundos administrados pela instituição financeira. Ele é sócio e gerente da corretora BI Asset Management (BIAM DTVM), onde o filho também trabalha.
A investigação aponta que, entre 2013 e 2016, Henrique Leite tinha duplo papel. Ele exercia a função primordial na autorização dos investimentos requeridos pelas empresas, na qualidade de diretor de Gestão de Terceiros da BRB/DTVM, com decisiva atuação em prol do Fundo SIA Corporate e LSH Hotéis. Ao mesmo tempo, atendia a pedidos do pai e ordens de Ricardo Leal, apontado na investigação como o chefe da organização criminosa.
Segundo os termos da colaboração premiada homologada pela Justiça, Henrique Domingues Neto terá que pagar R$ 9,2 milhões; e o filho, R$ 8 milhões. Eles também se submeteram à condenação de penas máximas de 16 e 14 anos de prisão, respectivamente.
Acusados pelo MPF dos crimes de manter organização criminosa, corrupção passiva, gerir fraudulentamente instituição financeira, desviar recursos e lavar dinheiro, Henrique Neto e Henrique Leite poderiam pegar 53 anos de prisão se levadas em conta as punições máximas previstas para os delitos.
Em nota à reportagem, a defesa de Rodrigo Rollemberg afirmou que as delações não encontram “amparo na realidade”. “Afinal, não houve dívida na campanha eleitoral de 2014. Todos os serviços contratados foram devidamente quitados antes mesmo da apresentação das contas, as quais foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) ainda no ano da eleição, sem qualquer ressalva”, afirmou a advogada Gabriela Rollemberg, responsável pelas contas da campanha eleitoral do pai, em 2014.
“Essas informações podem ser confirmadas mediante simples consulta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, acrescentou.
Advogada dos Henriques, Tathiana de Carvalho Costa detalhou ao Metrópoles os motivos que levaram os alvos da Circus Maximus a procurarem o escritório a fim de fazerem a colaboração. “O pai, que tem uma condição frágil de saúde, e o filho, por razões de foro íntimo, foram ao escritório decididos a formar os acordos.”
O Banco de Brasília tem reiterado que “apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem as investigações”.
Já o defensor do Grupo Brasal, Marcelo Bessa, disse que só poderá comentar se há implicação para o cliente quando tiver acesso ao teor das delações.
O LSH Lifestyle Hotel afirmou, em nota, que os fatos investigados se referem a um período anterior à atual administração. “Os atuais gestores têm colaborado com a PF e o MPF nas investigações. A direção está comprometida com uma gestão técnica, com o objetivo de, cada vez mais, melhorar a taxa de ocupação e o faturamento.”
A defesa de Ricardo Leal afirmou que não se manifestará sobre o conteúdo das delações.
A Operação Circus Maximus foi deflagrada em 29 de janeiro de 2019, mirando na cúpula do banco da gestão de Rodrigo Rollemberg. A ação apura irregularidades praticadas no BRB envolvendo fundos de investimentos, com a atuação de agentes públicos, empresários e agentes financeiros autônomos.
Ricardo Leal, Henrique Neto e Henrique Filho e mais 14 pessoas foram denunciadas à Justiça Federal. Os réus responderão por crimes contra o sistema financeiro, corrupção, lavagem de dinheiro, gestão temerária, entre outros.
As investigações apontam para prejuízos de, aproximadamente, R$ 348 milhões ao BRB, participantes de fundos de pensão e Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), poupadores e ao sistema financeiro nacional. O suposto grupo criminoso teria movimentado R$ 40 milhões em propina.