05/03/2017 às 07h55min - Atualizada em 05/03/2017 às 07h55min

Dois policiais civis indicados por Celina Leão ocupam cargos estratégicos no Ministério da Defesa

Conhecido como Marcellão, Marcello Oliveira é o chefe de gabinete do diretor do Instituto Pandiá Calógeras, órgão de estudos sobre estratégias de defesa. Welber é assistente da Assessoria Técnica da Secretaria de Controle Interno do Ministério da Defesa.

ANA MARIA CAMPOS

A indicação de dois personagens da política do Distrito Federal em cargos sensíveis do Ministério da Defesa acendeu o alerta vermelho na cúpula das Forças Armadas. Indicados pela deputada Celina Leão (PPS), os agentes da Polícia Civil do DF Marcello de Oliveira Lopes e Welber Lins de Albuquerque ocupam funções estratégias na pasta comandada pelo deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE).

 

Conhecido como Marcellão, Marcello Oliveira é o chefe de gabinete do diretor do Instituto Pandiá Calógeras, órgão de estudos sobre estratégias de defesa. Welber é assistente da Assessoria Técnica da Secretaria de Controle Interno do Ministério da Defesa.

 

O alerta da área de inteligência das Forças Armadas foi ligado quando a Corregedoria da Polícia Civil do DF abriu um procedimento para averiguar a participação de Welber e do delegado Flamarion Vidal em depoimento que Celina colheu, em agosto do ano passado, com um hacker que clonou o telefone celular do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). O episódio veio à tona com a divulgação das gravações feitas com escuta ambiental, instalada no gabinete da deputada Celina Leão, como diligência da Operação Drácon.

 

Nas gravações, um assessor de Celina avisa ter conversado com o delegado Flamarion Vidal, chefe da 4ª DP (Guará), e ficou acertado que Welber acompanharia o depoimento de Jefferson Rodrigues Filho, o homem que invadiu as mensagens de WhatsApp de Rollemberg. O objetivo era obter informações que comprometessem o governador do DF. Celina gravou o depoimento e o enviou à Polícia Federal. A PF, por sua vez, encaminhou o caso para a direção-geral da Polícia Civil.

 

Quando esteve no gabinete de Celina, Welber já estava cedido pela Polícia Civil ao Ministério da Defesa. Flamarion explicou ao Correio que não tinha informações sobre o conteúdo do depoimento e apenas orientou o agente sobre como proceder se houvesse uma tentativa de extorsão por parte do suposto estelionatário.

 

Welber foi nomeado no Ministério da Defesa no mesmo ato que designou Marcellão para o Instituto Pandiá Calógeras. Também chamou a atenção da inteligência das Forças Armadas o fato de o agente da Polícia Civil ter sido investigado na CPI do Cachoeira, no Congresso. Conversas de Marcellão com representantes da Delta Engenharia foram interceptadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que investigou a influência de Carlos Cachoeira no poder político de Goiás e do Distrito Federal. Na ocasião, Marcellão ocupava cargo na Casa Militar do governo de Agnelo Queiroz e foi exonerado da função.

 

Apadrinhamento

 

O Ministério da Defesa foi criado em junho de 1999, ainda no primeiro semestre do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. À época, substituiu três pastas: Marinha, Exército e Aeronáutica. Entre os governos FHC, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o ministério da Defesa teve nove chefes, incluindo Geraldo Quintão, José Alencar, Nelson Jobim e Aldo Rebelo. Todos, em maior ou menor grau, com a anuência e a aprovação dos militares. A atual grita das Forças Armadas contra o apadrinhamento de indicados subterrâneos é uma novidade.

 

Para saber mais

 

Abalo político na capital

 

A Operação Drácon foi deflagrada em 23 de agosto do ano passado e causou um forte abalo na política do Distrito Federal. Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do DF apontaram a existência de um suposto esquema de cobrança de propina para a liberação de emendas para empresas de UTIs. No total, a Câmara autorizou o repasse de R$ 31 milhões a empresários do setor. A então presidente da Casa, Celina Leão, e os três secretários da Mesa Diretora à época, Bispo Renato (PR), Raimundo Ribeiro (PPS) e Júlio César (PRB), foram alvos de mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão.

 

Por determinação judicial, todos foram afastados dos cargos de direção na Casa. Além deles, Cristiano Araújo também teve que prestar depoimentos e acabou denunciado em decorrência do escândalo, assim como o ex-secretário-geral da Câmara Valério Neves. A denúncia do MP está no Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e deve ser apreciada em breve. Se os desembargadores entenderem que há indícios de crimes, os parlamentares vão virar réus de uma ação penal.


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