Professor, chefe do tráfico no Alemão, comandava rotas internacionais de armas e drogas, revela PF

Fhillip da Silva Gregório, conhecido como professor, foi encontrado morto neste domingo; segundo a polícia ele atuava com autonomia no CV

03/06/2025 09h29 - Atualizado há 1 dia
Professor, chefe do tráfico no Alemão, comandava rotas internacionais de armas e drogas, revela PF
Fhillip da Silva Gregório, o Professor — Foto: Reprodução

Durante pelo menos dois anos, entre março de 2013 e março de 2015, o traficante Fhillip da Silva Gregório — conhecido pelo vulgo Professor e encontrado morto na noite deste domingo —, foi um dos principais chefes do tráfico de drogas no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Condenado a mais de 21 anos de prisão, Fhillip, aos 37 anos, estava à frente de uma estrutura criminosa com ramificações no interior do estado, em Minas Gerais e em São Paulo, articulando a compra, a distribuição e o transporte de cocaína, armas de fogo e munição, além de negociar com fornecedores da América do Sul e da Europa. Ele tinha 65 anotações criminais.

A condenação ocorreu devido a uma denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, recebida pela 26ª Vara Criminal, que imputava ao réu os crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico, posse ilegal de arma de fogo, homicídio, tráfico interestadual e uso de transporte público.

Fhillip assumiu o controle do tráfico no Alemão após a morte de Diogo Wellington Costa, o Bebezão, em 21 de julho de 2014. Segundo as investigações da Polícia Federal, ele usava diversos telefones celulares e aplicativos criptografados para comandar a distribuição de entorpecentes no Alemão. A base da quadrilha era na Rua Canitá, dentro do conjunto de favelas — as operações também envolviam um sítio em Seropédica, na Baixada Fluminense, e rotas interestaduais com destino a Juiz de Fora (MG).

Interceptações autorizadas judicialmente mostraram que Professor mantinha contato direto com Izaias Nascimento Silva, o Tianinho — responsável pelas transações financeiras do grupo; Carlos Roberto Costa Cruz, o Betinho CPX — intermediador das ordens de Fhillip para os demais membros; além de Biel, Juvenal e Beicim — encarregados pelo transporte das drogas dentro do Estado do Rio de Janeiro.

Os integrantes da organização trocavam mensagens com fotografias de drogas, armas e comprovantes de depósitos bancários, que serviam como garantia nas negociações com fornecedores e subordinados.

De acordo com a polícia, Fhillip não era apenas um operador local do tráfico: ele tinha status elevado dentro da facção Comando Vermelho. O próprio acusado, segundo interceptações da PF de mensagens dele para terceiros, afirmou ter ligação direta com a facção, mas sem subordinação a chefes superiores, demonstrando seu status elevado na hierarquia da organização. O chefe do Alemão afirmava que os demais traficantes — do Rio e de outros estados — eram subordinados diretamente a ele. Atualmente, ele era apontado como o terceiro homem mais influente da facção fora do sistema penitenciário.

Flagrantes e apreensões: como a quadrilha agia

Ações controladas e operações de rotina da polícia levaram à prisão de cúmplices de Professor e à apreensão de drogas adquiridas por ele. Os episódios mais relevantes foram:

23 de agosto de 2014 – em um posto de gasolina na Rodovia Presidente Dutra, em Queimados (RJ), policiais federais prenderam Carlos Roberto da Costa Cruz, o Betinho CPX, e o argentino Naser Martin Daniel. Eles estavam em um Honda Civic transportando 41,9 kg de cloridrato de cocaína destinados ao Complexo do Alemão. Também foram apreendidos R$ 13 mil em espécie e uma pistola calibre .40 municiada. A droga havia sido comprada diretamente por Fhillip, segundo a investigação. Na Rodoviária Novo Rio, na região portuária do Rio, agentes federais prenderam Daniele Ferreira Viana com 7 kg de cloridrato de cocaína. A carga se destinava à cidade de Juiz de Fora (MG), onde a organização tinha braços operacionais.

11 de fevereiro de 2015 – Na saída 6 da Linha Amarela, altura da Avenida Itaóca, foi abordado um veículo Hyundai HB20. O motorista, Assu Daniel Machado de Camargo, transportava 60 tabletes de cloridrato de cocaína, escondidos em um compartimento falso, a mando de Fhillip.

12 de março de 2015 – Já preso, Professor levou a Polícia Federal até um sítio de sua propriedade em Queimados, onde os agentes localizaram aproximadamente 100 kg de cloridrato de cocaína escondidos em um dos cômodos da residência.

Essas apreensões demonstraram, segundo a polícia, a alta capacidade logística e financeira do grupo. O entorpecente era transportado em veículos adaptados. A quadrilha movimentava grandes quantias em dinheiro, além de fazer uso de armamento pesado

Pena de 21 anos A denúncia do MP sobre Fhillip foi oferecida em 30 de março de 2015 e recebida pelo Judiciário em 7 de maio de 2015. A sentença condenatória foi comunicada em 27 de novembro de 2015, estabelecendo pena de 21 anos, 10 meses e 14 dias de reclusão em regime fechado, além do pagamento de multa de 1.200 dias-multa, no valor de 1/30 do salário mínimo por dia

No entendimento da Justiça, os elementos probatórios — incluindo escutas telefônicas, prisões em flagrante, laudos periciais e material apreendido — eram robustos e confirmavam a atuação de Professor como um dos articuladores do tráfico de drogas na capital fluminense.

As estratégicas de Professor

Tentativa de exportação de traficante para o Paraguai com plano internacional da quadrilha - em março de 2015, durante o monitoramento das ações de Fhillip, policiais federais identificaram a tentativa dele de enviar o traficante Edson dos Santos, o Orelha, do município de Santos (SP) para o Paraguai. Inicialmente, o plano previa o uso de um avião clandestino, mas a aeronave não apareceu. Diante disso, o grupo decidiu transportar Orelha de carro até a fronteira. A polícia não conseguiu impedir a ação, pois os aparelhos telefônicos utilizados pelo bando estavam desligados no momento da viagem. Dias depois, os celulares foram religados e os agentes retomaram o monitoramento. Esse movimento internacional expôs a conexão da quadrilha com rotas transnacionais de tráfico.

R$ 1 milhão em 15 dias: a máquina financeira da quadrilha - De acordo com o depoimento de agentes da Polícia Federal e os registros extraídos de conversas interceptadas, Fhillip movimentou mais de R$ 1 milhão em depósitos bancários em apenas 15 dias. As transações eram feitas em contas de pessoas físicas e jurídicas, e serviam para pagamento de grandes carregamentos de cocaína e armamentos. As mensagens incluíam fotos de comprovantes de depósito e das drogas, em um modelo de "comércio profissional" do tráfico. Estima-se que, em períodos de maior atividade, o volume chegava a R$ 800 mil a R$ 900 mil por semana.

Plano de expansão rural com compra de chácaras e uso de carretas internacionais - As mensagens interceptadas pela PF mostram que Fhillip planejava a compra de uma segunda chácara nos limites dos municípios de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e do Rio de Janeiro. O traficante já possuía um sítio em Seropédica, onde foram apreendidos 100 kg de cocaína em março de 2015, que era usado como base para armazenamento de grandes quantidades de cocaína. Ele também discutia a aquisição de uma carreta para transporte de entorpecentes vindos da Colômbia, da Bolívia e do Peru. Uma das mensagens enviadas por ele a um interlocutor conhecido como PH dizia que o sítio tinha “estrutura pica pra nois arriar aqui”, evidenciando o uso do local para armazenamento de cargas de cocaína.

Confissão parcial e estratégia de “ajudador” - Ao depor em juízo, Professor negou ser chefe do tráfico e se classificou como apenas um "ajudador". Ele confessou que participava das atividades criminosas. Sua função era controlar rotas, depósitos e subordinados. A estratégia de minimizar sua participação contrastou com as provas apresentadas pela PF no inquérito. Ele negou exercer liderança e disse que apenas seguia ordens, embora tenha admitido que fazia contatos com fornecedores, dizia quanto tinha que ser depositado e indicava o que precisava ser entregue. Também reconheceu que levava os policiais voluntariamente ao sítio de Seropédica, onde a droga foi apreendida. Ainda assim, evitou citar superiores, alegando que isso poderia "comprometer sua família". ·


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