Diante da escalada do conflito entre Israel e Irã, que já chega ao 11º dia, hoje, o governo brasileiro intensificou os esforços para garantir a segurança dos cidadãos nacionais que estão nas áreas de conflito.
A Embaixada do Brasil em Tel Aviv começou a registrar, na semana passada, os brasileiros interessados em deixar o território israelense, e interlocutores da Força Aérea Brasileira (FAB) disseram ao Correio por meio de telefone que a tropa militar está de prontidão para uma possível operação de resgate, caso seja acionada pelo governo.
Em nota divulgada, ontem, pelo Palácio do Itamaraty, o governo expressou "grave preocupação" com os ataques militares e condena com veemência as ações armadas tanto de Israel quanto dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas. O governo brasileiro classificou tais ataques como "flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e das normas da Agência Internacional de Energia Atômica", alertando para os riscos de contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala. O posicionamento, entretanto, não gerou nenhum comunicado oficial para o resgate dos cidadãos brasileiros na região dos confrontos, segundo a FAB.
Em Tel Aviv, a embaixada brasileira divulgou alerta consular orientando que todos os brasileiros interessados em sair do país preencham um formulário individual — inclusive, menores de idade. Ainda não há, no entanto, um plano fechado de repatriação. O apoio da FAB está condicionado a uma solicitação formal do Ministério das Relações Exteriores, conforme explicou a Aeronáutica em resposta a um ofício do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
"Seguimos em diálogo direto com a FAB e o Itamaraty. Essa sinalização é uma demonstração de que estamos prontos para agir. Nosso foco é garantir que todos os brasileiros voltem para casa em segurança", afirmou o parlamentar.
A reportagem entrou em contato com o Itamaraty em busca de um posicionamento oficial do governo federal, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Na semana passada, contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a criticar publicamente os ataques de Israel contra o Irã, na Cúpula do G7, no Canadá. O G7 reúne as sete economias mais industrializadas do planeta: Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Canadá e Itália.
"Os recentes ataques de Israel ao Irã ameaçam fazer do Oriente Médio um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis", disse o presidente brasileiro, em discurso no qual se opôs às demais lideranças do G7, que reforçaram o direito de defesa de Israel. Lula voltou a defender uma solução pacífica e criticou o uso da força como estratégia geopolítica.
Brasileiros em apuros
Enquanto a ajuda não chega ao Oriente Médio, brasileiros vivem momentos de apuros em meio à guerra. Em entrevista à rádio francesa RFI, brasileiros que vivem em Israel relataram como têm sido os últimos dias em meio à guerra na região.
Sarah Salomão Neta, que é cozinheira e guia de turismo, mora sozinha em Bat Yam, na região metropolitana de Tel Aviv, e teve sua casa destruída por um míssil iraniano que atingiu a parte da frente do prédio. Ela estava no "miklat", o termo em hebraico para o abrigo coletivo, que fica na parte de baixo dos edifícios. Esse tipo de abrigo é muito comum, em especial em prédios mais antigos construídos antes de 1993, quando uma lei aprovada pelo parlamento israelense determinou que todas as novas construções deveriam ter um quarto protegido no interior dos apartamentos.
"Para mim só a parte da frente do prédio tinha sido destruída. Depois subi no apartamento e tudo estava destruído. A porta de madeira estava caída no chão, a janela tinha caído na poltrona, no meu quarto todas as paredes caíram", disse Sarah. Ela está temporariamente hospedada em um hotel em Tel Aviv, assim como os demais moradores do prédio.
"Eu estou em estado de choque. Não posso ouvir um barulho que meu coração vem na boca", contou a brasileira.
Deborah Kopstein Schanz trabalha como cuidadora de crianças e mora em Ramat Gan, outra cidade atingida por um míssil iraniano, também relatou os momentos de aflição. "Não estou saindo de casa para praticamente nada, compras eu peço para entregar. Tem sido muito difícil. Fico pensando nos meus pais que moram em Haifa, no meu irmão que mora em Zichron Yaakov (também no norte de Israel) com as crianças", frisou ela.
"Eu tenho que ir para o abrigo do prédio, mas que não tem uma porta de ferro. É só rezar, porque estão se aproximando [os mísseis]. Estão caindo muito perto de pessoas que a gente conhece", completou a brasileira.
Já o comerciante brasileiro Mateus, que não informou seu sobrenome por segurança, mora no Irã e fugiu por terra. Ele relatou que estava em Teerã, capital iraniana, no momento em que ocorreu um bombardeio israelense e precisou fugir de táxi para cruzar a fronteira da Turquia.
"Nunca achei que teria uma guerra. Até agora eu não acredito. Eu estou chocado", declarou o brasileiro. Ele estava a trabalho em Teerã há mais de um mês e morava a 3km de distância de uma das áreas que foram bombardeadas.
Com o espaço aéreo fechado, a única opção para sair do Irã é por via terrestre. A princípio seu plano era seguir com seus colegas iranianos para o norte do país, na cidade de Qaem Shahr, em Mazandaran. Porém, um de seus amigos o convenceu a deixar o país e o ajudou a conseguir um táxi até a fronteira com a Turquia.