Foi o próprio Guedes quem trouxe o assunto à tona novamente. O ministro disse, na última sexta-feira, que, além de trabalhar em medidas de saúde, emprego e renda, o Brasil precisa avançar com a reforma tributária, nos próximos meses, para oferecer as condições adequadas à retomada econômica. E o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), confirmou que a reformulação do sistema tributário será a “prioridade número um” neste segundo semestre, já que pode aumentar a competitividade do setor privado brasileiro. “Eu disse ao presidente Davi (Alcolumbre, presidente do Senado) que precisamos retomar esse debate esta semana. Não tem mais tempo”, frisou o deputado.
Presidente da comissão mista, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA) também vai conversar com Alcolumbre, hoje, para tentar viabilizar a retomada virtual da comissão. E quer sair da reunião já com os procedimentos necessários para isso, pois garante que há disposição dos parlamentares e do governo para trabalhar, de forma remota, a reforma tributária. “Discuti os procedimentos com o relator Aguinaldo Ribeiro. Alinhei com Câmara e Senado. Tive reuniões com o presidente Bolsonaro e com os ministros Paulo Guedes e Braga Netto (Casa Civil) para alinhar com o Executivo. Maia também já se mostrou favorável. Agora, vou só alinhar com o Davi para definir o calendário”, contou Rocha. O senador explicou que devem ser necessários cerca de 60 dias de debate na comissão antes de levar o assunto a plenário. “Se não acelerar, a gente não vota neste ano.”
Ele cobrou, contudo, que o governo federal apresente a sua proposta de reforma tributária. “Estamos esperando há mais de um ano”, lembrou. Na semana passada, Guedes admitiu que a proposta está pronta para ser apresentada, mas indicou que só faria isso quando houvesse um acordo político. “Falta identificar o momento adequado para apresentar, definir a agenda”, disse o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
Gomes acrescenta que será mais fácil criar esse timing com a retomada virtual da comissão. Mas outros parlamentares avisam que esse debate pode atrasar, caso Guedes insista em uma proposta que já foi rejeitada pelo Congresso e até por Bolsonaro: a criação de um imposto que incide sobre transações financeiras digitais e que, por isso, acabou sendo apelidado de CPMF Digital.
O ministro defendeu o assunto nos últimos dias, pois entende que a medida é necessária para compensar a redução de outros impostos. Maia, porém, avisou no domingo que, enquanto for presidente da Câmara, não vai pautar “qualquer imposto disfarçado de CPMF”.