O prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto (DEM), ressaltou que a decisão não deve ser precipitada. “Uma medida restritiva isolada para nossas cidades, levando em conta que nossa população se desloca todos os dias para o DF e volta, não teria eficiência. Certamente, teremos de discutir esse assunto para decidir quais as melhores medidas a tomar”, afirmou Diego, que pediu compreensão por parte da população. “Continuem com uso de máscara, álcool em gel e evitem aglomerações, para que a gente possa, com a benção de Deus, escolher qual o caminho. Não podemos banalizar a vida, mas também temos de garantir a saúde das atividades econômicas”, declarou.
Luziânia e Valparaíso são algumas das cidades em que circula a variante britânica do novo coronavírus. Vale lembrar que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou que a cepa está em circulação no Distrito Federal desde dezembro. A reportagem tentou contato com a assessoria do governador Ibaneis e com o chefe do Executivo para saber se ele participará da reunião na próxima semana, mas não teve resposta até a última atualização desta matéria.
A situação do Entorno preocupa porque afeta o sistema de saúde do DF. Em mapa divulgado na quarta-feira (17/2) pela Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO), a região que compreende os municípios de Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cristalina, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso estava entre as áreas com cenário de calamidade. A recomendação da pasta, diante desse caso, é a interrupção de todas as atividades — exceto supermercados, farmácias, postos de combustíveis ou serviços de urgência e emergência em saúde.
Para José David Urbaez, diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) do Distrito Federal, o Entorno está estritamente ligado ao DF, principalmente porque grande parte da população das cidades próximas trabalha na capital do país. “Brasília convive com essa demanda, de prestar atendimento para moradores do Entorno de forma rotineira. E isso está certo. Mas a presença de uma situação mais séria nessas regiões, e a circulação das variantes com certeza causará uma demanda maior no DF. Por isso, é essencial que o governo trabalhe muito bem em uma estratégia de vacinação em massa”, pontua.
O especialista aconselha, ainda, a adoção de medidas restritivas para diminuir a circulação do vírus. “O problema é que nos acostumamos a um número alto de mortes todos os dias e começamos a achar tudo normal. Contudo, enquanto a circulação estiver em tão altas taxas, o vírus continuará se modificando, pois isso é biológico”, explica José David.
O médico Roberto José Bittencourt considera que a segurança sanitária do Entorno também é de responsabilidade do Distrito Federal. “Temos uma fronteira geográfica que delimita essas áreas, mas a fronteira sanitária não é essa. Até porque as pessoas que precisarem de um atendimento de emergência não podem ser levadas até Goiânia, pois essa distância pode significar a vida ou a morte do paciente”, alerta.
Para o especialista, deve haver uma parceria entre Goiás e o DF: “O atendimento deve ocorrer, até porque somos um Sistema Único de Saúde. Entretanto, o governo distrital deve tomar a iniciativa de dialogar com o governador do Goiás e com o Ministério da Saúde para fazer as compensações de investimento. Devemos fazer o atendimento, mas ter o retorno para lidar com esses gastos”, completa Roberto José.
Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista do Estado de Goiás (Sindilojas-GO), informou que a orientação é de que os lojistas continuem a seguir os protocolos e ajudem a conscientizar o público sobre a importância desses cuidados, assim como do engajamento de cada indivíduo para combate à pandemia. “O Sindilojas-GO relembra que pesquisas científicas mostraram que o comércio e as empresas em geral podem ser considerados ambientes seguros, com menor risco de contaminação, justamente porque seguem à risca os protocolos sanitários recomendados na prevenção à doença”, defendeu a entidade.
A mutação do novo coronavírus identificada no Reino Unido apareceu pela primeira vez em setembro. Segundo dados do pesquisador Erik Volz, do Imperial College de Londres, a cepa pode ser até 70% mais transmissível. Além disso, especialistas identificaram uma mutação adicional, chamada E484K, que havia sido encontrada na África do Sul, bem como na Bahia e no Rio de Janeiro. Essa alteração — detectada em, ao menos, 82 países — pode dar ao vírus mais resistência à vacina.