O presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu nesta quarta-feira (28/9) que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assuma a responsabilidade de um suposto vazamento à imprensa da operação da Polícia Federal contra o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens do chefe do Executivo federal.
Nesta semana, o jornal Folha de S.Paulo revelou que Moraes autorizou, nas últimas semanas, quebra de sigilo bancário do principal ajudante de ordens de Bolsonaro. A decisão do ministro atendeu a um pedido da Polícia Federal, que encontrou no telefone do principal auxiliar do presidente mensagens que levantaram suspeitas sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.
Durante transmissão ao vivo nas redes sociais, o titular do Palácio do Planalto voltou a dizer que a quebra de sigilo é uma “covardia” e acusou Moraes de vazar a informação para a imprensa. O chefe do Executivo federal fez as mesms acusações ao ministro durante uma transmissão ao vivo feita nessa terça-feira (27/9). Mais cedo, nesta quarta, após as acusações de Bolsonaro, Alexandre de Moraes determinou que fosse instaurada uma investigação para apurar vazamentos sobre o caso.
“Agora recebi a informação de que ele abriu um inquérito para investigar se a PF ou o MP vazou. Alexandre, quem vazou foi você. Seja homem, Alexandre. Seja homem, Alexandre. Tu só bota a culpa na PF. […] A PF não faz nada. A PF cumpre ordens. Você que manda fazer isso. Seja homem, Alexandre. O tempo todo atazanando a minha vida”, afirmou Bolsonaro durante live nesta quarta.
Entenda a investigação da PF
O material analisado pela Polícia Federal indica que as movimentações financeiras se destinavam a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A investigação identificou pagamento fracionado para uma tia de Michelle, que cuida da filha do casal, Laura, de 11 anos, quando a primeira-dama está em compromissos ou em viagens. Realizações de depósitos fracionados e saques em espécie chamaram a atenção da polícia, que desconfia da tentativa de ocultar a procedência do dinheiro.
Na terça, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) negou irregularidade nas transações. Em nota à imprensa, alegou que o auxílio financeiro da primeira-dama à tia se dá “por questões de confiança pessoal e segurança”. Mas Bolsonaro não deixou de enviar recados a Moraes.
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados pelo tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens, com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro. Há um inquérito policial analisando as transações sob suspeita, mas ainda não há acusação formal. A PF quer descobrir a origem do dinheiro e investigar se há uso de verba pública.
A quebra de sigilo bancário ocorre no âmbito do caso que apurava o vazamento de uma investigação sobre um hacker no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Moraes compartilhou a apuração, que agora tramita no inquérito das milícias digitais.
Nessa investigação sobre o vazamento do caso do ataque ao TSE, Cid virou alvo por ter atuado no episódio e teve o sigilo telemático (e-mails, arquivos de celular e nuvem de armazenamento) quebrado por ordem de Moraes. Na análise desse material, a PF se deparou com as movimentações financeiras que considerou suspeitas.
Em conversas por aplicativos de mensagens, integrantes da Ajudância de Ordens trocam recibos de saques e depósitos e abordam o pagamento de boletos.
A Ajudância de Ordens é uma estrutura que funciona dentro do gabinete pessoal de Bolsonaro e cujos servidores, em sua maioria militares, atuam diretamente no dia a dia do presidente. Ele é considerado um dos funcionários mais próximos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.